À muito tempo meio que descobri este poema em um pré-vestibular e o mais interessantes sobre esta autora é que ela fala sobre problemas adultos em forma de contos-de-fadas, sempre cercado s de muita magia e simbolismos com o fim da saga nos cinemas achei de bom tom apresenta-la à vocês. E o mais interessante disso tudo, é que na época eu realmente não sabia nada sobre a "corça prateada" nos livros da J.K., não é uma incrível coincidência? Bom, agora sem mais delongas, "Entre as folhas do verde" de Marina Colasanti:
Entre as folhas do verde
(...) O príncipe acordou contente. Era dia de caça. Os cachorros latiam. (...).
Lá embaixo parecia uma festa. (...) brilhavam os dentes abertos em risadas, as armas, as trompas que deram o sinal de partida.
Na floresta também ouviram a trompa e o alarido. (...) e cada um se escondeu como pôde.
Só a moça não se escondeu. Acordou com o som da tropa, e estava debruçada no regato quando os caçadores chegaram.
Foi assim que o príncipe a viu. Metade mulher, metade corça, bebendo no regato. A mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher ele queria amar, a corça ele queria matar. Se chegasse perto será que ela fugiria? Mexeu num galho, ela levantou a cabeça ouvindo. Então o príncipe botou a fecha no arco, retesou a corda, atirou bem na pata direita. E quando a corça-mulher dobrou os joelhos tentando arrancar a flecha, ele correu e a segurou, chamando homens e cães.
Levaram a corça para o castelo. Veio o medico, trataram do ferimento puseram a corça num quarto de porta trancada.
Todos os dias o príncipe ia visitá-la. Só ele tinha a chave. E cada vez se apaixonava mais. Mas corça-mulher só falava a língua da floresta e o príncipe só sabia ouvir a língua do palácio.
Então ficavam horas se olhando calados, com tanta coisa para dizer.
Ele queria dizer que a amava tanto, que queria casar com ela e tê-la para sempre no castelo, que a cobriria de roupas e jóias, que chamaria o feiticeiro do reino só para fazê-la virar toda mulher.
Ela queria dizer que o amava tanto, que queria casar com ele e levá-lo para a floresta sta, que lhe ensinaria a gostar dos pássaros E das flores e que pediria à Rainha das Corças para dar-lhe quatro pás ágeis e um belo pêlo castanho.
Mas o príncipe tinha a chave. E ela não tinha o segredo da palavra.
(...) E no dia em que a primeira lagrima rolou dos olhos dela, o príncipe pensou ter entendido e mandou chamar o feiticeiro.
Quando a corça acordou, já não era mais corça. Duas pernas só e compridas, um corpo branco. Tentou levantar, não conseguiu. O príncipe lhe deu a mão. Vieram as costureiras e a cobriram de roupas. Vieram os joalheiros e a cobriram de jóias. (...) só não tinha a palavra. E o desejo de ser mulher.
Sete dias ela levou para aprender sete passos. E na manhã do oitavo dia, quando acordou e via a porta aberta, juntou sete passos e mais sete, atravessou o corredor, desceu a escada, cruzou o pátio e correu para a floresta a procura da Rainha.
O sol ainda brilhava quando a corça saiu da floresta, só corça, não mais mulher. E se pôs a pastar sob as janelas do palácio.
(COLASANTI, Marina. Uma idéia toda azul. São Paulo: Global, 1999.).
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