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Por Diversos — Outubro de 2006

As profecias de Sibila Trelawney foram, como vimos durante toda a série, peças chave para a realização de diversos acontecimentos, a maioria de extrema importância. Devido a elas surge, inevitavelmente, uma polêmica envolvendo seu poder de vidência, já que há varias situações, referenciadas até por Dumbledore, que nos fazem questionar se Trelawney consegue (voluntariamente ou não) prever o futuro. Apesar deste assunto já ter sido discutido por Renan Granger, há algumas relações que envolvem a clarividência da professora que são importantes de enfatizar, e que vou analisar nesta minha primeira coluna.

Desde que fomos apresentados à Sibila, ela é vista como uma charlatã pela grande maioria. Principalmente, porque Hermione e Dumbledore assim a consideram, apesar deste último já ter reconhecido duas de suas profecias e de tê-la elogiado ao falar sobre seu 'dom', referindo-se ao momento em que ela foi entrevistada por ele.

No entanto, alguns detalhes, que antes me passaram despercebidos, me chamaram a atenção. Pesquisando material para o livro que pretendo escrever, uma coisa sobre o final de Príncipe me deixou curioso. Sibila previu que uma catástrofe estava para acontecer, e Dumbledore a ignorou:

“- O diretor insinuou que preferia receber menos visitas minhas – disse ela friamente – Não sou uma pessoa de impor a minha presença àqueles que não a apreciam. Se Dumbledore prefere ignorar os avisos dados pelas cartas...” Enigma do Príncipe - Página 426.

Agora, pulando uns dois capítulos, nos deparamos com 'A Torre Atingida pelo Raio'. A interpretação deste título varia entre os leitores. Fazendo uma pesquisa rápida e supérflua entre os três fóruns que participo, conclui que as interpretações mais apresentadas foram:
- A Torre atingida pelo Raio: Dumbledore é atingido pelo raio do Avada Kedava e é lançado da torre;
- O raio seria o feitiço Morsmordre, usado para conjurar a Marca Negra que ficou pairando sobre a Torre.

Não sei se o motivo fora a superficialidade da pesquisa, mas foram poucas as pessoas que interpretaram o capítulo da maneira que vou propor a seguir. Leiam esse trecho:

“Sua mão ossuda agarrou subitamente o pulso de Harry.
- Repetidamente, seja qual for o modo que eu as punha...
E, dramaticamente, Trelawney puxou uma carta de baixo dos xales.
- ... A Torre atingida pelo raio – sussurrou ela – Calamidade. Catástrofe. Cada dia mais próxima...” Enigma do Príncipe - Página 426.

Tenho certeza que muitos assimilaram a carta ao título do capítulo, que realmente apresenta ambigüidade. Sibila, sem saber exatamente sobre o que era, fez a maior previsão desde as profecias, e embora sua voz não tenha ficado etérea e mística, previu a morte de Dumbledore. E mais interessante ainda, apesar de não ter ficado explícito no diálogo, é que 'A Torre atingida pelo raio' é uma carta de tarô. Isso só mostra ainda mais a genialidade de Jo Rowling, que usou o duplo sentido no nome do capítulo (pena que a equipe de tradução portuguesa não tenha percebido tal habilidade). Como ela fez no título do capítulo 3, que em inglês é 'Will and Won’t', isto é, 'Vai e Não Vai'; mas Will também significa testamento, se referindo ao testamento de Sirius. Na tradução brasileira, o título ficou 'Querer é Poder', perdendo o trocadilho. Assim como na versão portuguesa, na qual o título ficou como 'Uma Herança Ingrata'. Mas em Portugal foi ainda pior, já que a equipe de tradução não entendeu que se referia a uma carta de tarô, e o capítulo 27 foi nomeado como 'Luta na Torre'.

O colunista Ralph Rosier, no momento em que apresentei esta coluna a ele, me apontou, após ler a coluna, que Torre pode estar mesmo se referindo ao elemento mais óbvio. E está. Quem foi atingido pelo raio? Alvo Dumbledore. J.K. aproveitou genialmente o termo torre para compará-lo ao poder. A torre representa seu poder, seu legado. Se fossemos mais ligados e se tivéssemos dado crédito à 'profecia' de Sibila, teríamos percebido que era Dumbledore quem morreria nesse capítulo assim que lêssemos o título deste. O curioso é que muitas pessoas, segundo a minha pesquisa, interpretaram corretamente o raio como sendo a maldição da morte, mas nenhuma menção a Dumbledore ser a Torre, representando poder, uma estrutura forte.

Para reforçar que Dumbledore representa a torre, temos uma teoria bastante conhecida: a do Tabuleiro de Xadrez. Para aqueles que não a conhecem, a teoria diz que a cena do tabuleiro de Xadrez do livro Pedra representa a segunda Guerra, entre várias outras coisas que não valem a pena explicar agora. No tabuleiro, a casa da Torre estava vazia, o que nos leva a concluir, considerando que a partida represente a segunda guerra, que essa posição estava ocupada por alguém, mas agora outra pessoa precisaria tomar esse lugar no confronto. Lembram o lugar de que peça Hermione ocupou no tabuleiro? Acertou quem pensou na casa da torre. Para quem não se recorda, Rony disse aos amigos quais posições deveriam ocupar:

“– Bom, Harry, você toma o lugar daquele bispo e, Hermione, você fica ao lado dele substituindo a torre.” Pedra Filosofal – Página 241.

É claro que Dumbledore é insubstituível, mas se Hermione já ajudou Harry tantas vezes, imaginem o quão útil será na Guerra. Ela cumprirá, mais do que nunca, o papel da inteligência que Dumbledore cumpria, mas não necessariamente o papel de sabedoria. E vale lembrar que JK já disse que tirando o diretor, Hermione é provavelmente a mais inteligente da série e é através dela, que JK passa mensagens aos leitores, além de Dumbledore.

Vejamos agora as diversas interpretações que a carta “A Torre atingida pelo raio” possui. Os links abaixo contêm algumas delas:
- uma e outra.

O que podemos saber sobre a carta A Torre atingida pelo raio:

A Torre demonstra a quebra de uma estrutura estabelecida, a qual estamos presos. O movimento deste arcano é o da destruição que chega para libertar o ser de seu encastelamento, libertá-lo de uma prisão que pode ser mental, emocional ou material. Mesmo assim o homem insiste em não sair da prisão por temer o que virá, sem perceber que os destroços, resultantes de uma quebra, apesar de dolorosos, são necessários para reconstruirmos - interna ou externamente - o que já estava ultrapassado. Castelos e torres têm sido literalmente usados no decorrer dos séculos, como prisões, mas o sentido de aprisionamento é mais profundo quando se trata de uma prisão interior, aquela que nos impede de ver o próprio Eu, que nos impede de soltar as amarras escondidas nos valores pessoais. E só com a sensibilidade e percepção podemos transformar momentos de crise em fases de libertação e crescimento em todos os níveis. [adaptado de www1.uol.com.br/bemzen/ultnot/taro/ult50u157.htm

Harry perdeu sua estrutura, seu mentor. JK matou Dumbledore para mostrar como a vida é cruel e que temos que despegar das coisas, amadurecer, seguir adiante com nossos próprios passos. Significa recomeço. Não que não saibamos disso, mas é apenas mais uma confirmação.

A Torre sinaliza a necessidade de trocar com o mundo o que temos de verdadeiro e não dar atenção demasiada ao nosso próprio umbigo... é preciso rever a estrutura de valores com que construímos nossa edificação, para que não seja necessário que o céu venha nos arrasar o telhado e nos expor ao lado de fora de uma realidade que, por negligência ou inabilidade, nos recusamos a compartilhar. Esta estratégica infernal da suposta destruição que a carta vem mostrar não é tão má: afinal o que seria de qualquer um que se prendeu em torres de preconceitos e hábitos antigos e achou de vedar a passagem para o mundo exterior a fim de se proteger do mundo real?
[retirado do site: href=http://www.netflash.com.br/afolha/html/textos/tarodiabotorre.html]

É mais uma prova de que Dumbledore morreu, e apesar de não gostarmos disso, não foi algo de todo ruim.

Contudo, não posso ignorar a passagem sem propor algumas possibilidades relevantes. Será que Dumbledore chegou a ouvir os dizeres de Sibila ? Será que ele, um dos bruxos mais poderosos e sábios de todos os tempos, ignoraria uma profecia de uma vidente da qual ele mesmo já reconheceu profecias reveladoras?

Em minha opinião, Dumbledore pode até ter chegado a ouvir. Como ele mesmo disse em Fênix, ele não esperava escutar algo que lhe fosse útil quando foi entrevistar Sibila no Cabeça de Javali. Ao meu ver, ele simplesmente não acreditou. Como ela não falou com a mesma voz rouca de quando fez a profecia sobre Harry, ele concluiu que deveria ser mais uma de suas falsas predições.

Voltando algumas páginas no livro 6, temos o trecho:

“Harry atravessou os corredores desertos, embora tenha precisado se esconder ligeiro atrás de uma estátua quando a professora Trelawney surgiu, de repente, numa curva do corredor, murmurando e misturando as cartas de um baralho ensebado que lia enquanto andava.
- Dois de espadas: conflito – murmurou ao passar pelo lugar em que Harry se escondera agachado. – Sete de espadas, mau augúrio. Dez de espadas: violência. Valete de espadas: um rapaz moreno, possivelmente perturbado, que não gosta da consulente.
Ela parou de repente, do lado oposto da estátua de Harry.
- Bem, não pode estar certo – disse contrariada...” Enigma do Príncipe – Página 156.

Pesquisei sobre as cartas, mas analisá-las a partir da fala da própria Sibila é muito mais proveitoso. Vamos transferir o que 'dizem as cartas' para a cena do assassinato de Dumbledore:

“- Draco, mate-o ou se afaste, para um de nós... – guinchou a mulher, mas naquele exato momento a porta para as ameias se escancarou mais uma vez e surgiu Snape, de varinha na mão, seus olhos negros aprendendo a cena, de Dumbledore apoiado na parede aos quatro Comensais da Morte, incluindo o lobisomem enfurecido e Malfoy.
- Temos um problema, Snape – disse o corpulento Amico, cujos olhos estavam igualmente fixos em Dumbledore – o menino não parece capaz...
< Mas outra voz chamara Snape pelo nome, baixinho.
- Severo...
O som assustou Harry mais que qualquer coisa naquela noite. Pela primeira vez, Dumbledore estava suplicando.
Snape não respondeu, adiantou-se e tirou Malfoy do caminho com um empurrão. Os três Comensais da Morte recuaram calados. Até o lobisomem pareceu se encolher.
Snape fitou Dumbledore por um momento, e havia repugnância e ódio gravados nas linhas duras do seu rosto.” Enigma do Príncipe – Página 467.

Vamos dar uma pausa. Dois de espadas: conflito. A decisão de Snape. Como sou partidário da opinião de que Snape traiu Dumbledore, acho que é aí que há o embate entre os dois bruxos. Dumbledore provavelmente acreditava que Snape o ajudaria no plano que poderiam ter combinado, que incluía a salvação de Draco e que este e Snape ficariam escondidos, talvez forjando as mortes dos dois, por isso Dumbledore abaixou a guarda. Acreditava que Snape o ajudaria. Assunto que a Lilyp já discutiu. Mas Snape não o faz. Aí está o conflito entre os dois personagens. Podemos interpretar ainda, da maneira de que Snape não queria matar Dumbledore e este o obrigou a fazê-lo, tendo, portanto, um conflito. Bobagem na minha opinião.

Ainda voltando na parte do trecho que citei acima:

“Snape fitou Dumbledore por um momento, e havia repugnância e ódio gravados nas linhas duras do seu rosto.”

Sete de espadas, mau augúrio. O que é preciso para lançar uma Maldição da Morte? Querer matar. Sentir ódio, que estava claramente gravado na face de Severo. Já podemos ter uma pista do que ele ia fazer. Aí está o mau augúrio.

“- Severo... por favor...
Snape ergueu a varinha e apontou diretamente para Dumbledore.
- Avada Kedavra!”

Enigma do Príncipe– Página 468.

Dez de espadas: violência. Dispensa explicações, não? Snape se tornara assassino, rompera sua alma.

Valete de espadas: um rapaz moreno, possivelmente perturbado, que não gosta da consulente.

Considerando que o rapaz moreno seja Snape, podemos chagar a várias conclusões:
- Perturbado... Acabara de matar Dumbledore, como seriam as coisas dali pra frente?
Não poderia continuar sendo espião na Ordem, ele cumprira a missão de Draco. Como o Lorde das Trevas veria isso? -
Perturbado... ele não podia aceitar ter feito o que fez. Mas fez. Opinião compartilhada por aqueles que ainda acreditam em Severo Snape.

Agora sobre a 'consulente': Consulente é, de acordo com o dicionário Aurélio: Que ou quem consulta, consultador, consultante. A opção que mais se encaixa para mim é Harry. Ele estava presente na cena da Torre e quem Harry consulta? Dumbledore. Seu mentor. Ele o visitou muitas vezes para saber sobre o passado de seu maior inimigo no sexto ano. Só que isso me soa estranho por causa do artigo empregado, A consulente. Só que em inglês, a palavra usada foi questioner que é inquiridor, perguntador, interrogador. Olhando por esse ângulo, podemos encaixar Voldemort também, que certamente irá questioná-lo sobre o que fez, cumprindo a missão de Draco. Como acredito que ele não está do lado nem de Dumbledore nem de Voldemort, acho as duas alternativas possíveis.

Agora vou apresentar uma outra interpretação deste trecho... na versão original, o rapaz moreno é dark young man. Se fosse um rapaz negro, seria black young man, naturalmente. Só que Snape não é mais um jovem homem... ele deveria ter por volta de 38 anos em Príncipe. No entanto, uma coisa que já causou muitas discussões foi quando Petúnia se referiu a um boy (Tiago?) que teria dito a uma mulher (Lílian?) sobre Azkaban. Só que ela deve ter ouvido isso apenas depois que Lílian e Tiago concluíram a sétima série, dando que eles tenham começado a namorar nesse ano. Mas ele não seria mais um garoto (boy), seria? Esse boy foi traduzido como rapaz na tradução brasileira... Então, quem sabe esse dark young man seja Draco Malfoy? Draco é louro, mas dark young boy poderia ser traduzido como rapaz das trevas, não? Como já falei de Snape, vou deixar a imaginação de vocês os guiar nessa nova possibilidade. Mas expresso que prefiro Snape a Draco na comparação.

Ah, não poderia deixar de dizer que essa parte em que Sibila lê o baralho não precisaria estar no livro e poderia ser cortada facilmente. Mas o trecho está lá, o que nos deixa ainda com mais dúvidas sobre os poderes de Trelawney.

Após analisar essas 'previsões' de Sibila, indago: o que pode vir para a vidente na série? Antes, uma pergunta que ainda não vi em discussão precisa de uma resposta, afinal, o que aconteceu a Sibila Trelawney? Depois que ela revela que Snape foi quem ouviu a profecia, não vimos mais a personagem, nem no funeral de Dumbledore. Achei estranho, já que até personagens como Firenze e Dolores, que mal aparecem no livro, foram citados mais de uma vez no último capítulo. Será que ela foi capturada pelos comensais e levada a Voldemort, para que o Lorde das Trevas, de alguma maneira (talvez do mesmo modo como fez com Berta Jorkins, em Cálice), extraísse do inconsciente da professora de adivinhação a profecia que ele tanto valoriza? Ou ela simplesmente está em sua torre e não foi ao funeral do diretor porque este disse que preferia receber menos visitas dela?

É interessante notar como JK usou a adivinhação em HP. E a pergunta sobre Sibila continua. Apesar de já ter cumprido sua função principal, é estranho que ela tenha tido dois capítulos relacionados a ela em um livro que não teve muito destaque: A Vidente Entreouvida (Em Portugal, Um Ouvido Inoportuno) e A Torre Atingida Pelo Raio (Em Portugal, Luta na Torre). Ainda temos de levar em conta, essas 'previsões' feitas por ela, porque apesar da maioria das ‘predições’ feitas ao longo da saga serem duvidosas e contraditórias, Trelawney merece mais crédito do que lhe damos. O que será que está guardado para a vidente no próximo livro? Por ser uma ponte da ligação Harry/Voldemort, creio que veremos um pouco mais dela. Ela ficou sobre a proteção de Dumbledore por 16 anos. Ela pode estar em perigo agora, se Voldemort descobrir que ela fez a profecia (se é que ele ainda não sabe)... É uma boa candidata a morrer. Será que ela vai fazer uma nova profecia ou previu algo que passou despercebido perante nossos olhos? Bom, teremos que esperar um bom tempo para que tenhamos essas perguntas respondidas.

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