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:: Sala das Profecias ::



Por Lilyp — Junho/Julho de 2005
  
Já fiz várias colunas sobre o Snape, abordando diversas de suas facetas, inclusive o fato de que o considero um mau professor. Tenho que voltar ao assunto agora, pois o tema a seguir poderá se tornar obsoleto depois do lançamento do livro seis. Pode ser que o livro acabe por desmentir ou reforçar o que está aqui. Por isso tinha que fazer esta coluna agora. 
  
Se nas aulas de Poções, a má didática de Snape se nota apenas pelo fato de agir intimidando os alunos, o que, para alguns pode até não atrapalhar no aprendizado, nas aulas de oclumência em que ele e seu pupilo estão sozinhos um com o outro, fica muito mais evidente o quanto ele não ensina nada. 
  
O próprio Harry culpa a si mesmo por não ter se dedicado ao treino de oclumência e, assim, ter permitido a penetração de Voldemort em sua mente. Será que a culpa é mesmo dele, ou será que Snape estava dando aulas ruins, talvez até propositalmente, não permitindo de fato que o garoto avançasse na matéria? Será que Rony tem razão e Snape está na verdade facilitando a entrada de Voldemort na mente de Harry? Eu não sei se afirmaria tanto, mas li um artigo muito bom que defende essa idéia. Vou colocar aqui algumas considerações e depois comento essas hipóteses mais radicais. 
  
Em primeiro lugar, quero deixar claro que é necessário sempre duvidar das palavras dos personagens. Já vimos, em diversas ocasiões, que muitas vezes eles erram ou mentem. Por isso, vou começar lançar um olhar cético a tudo aquilo que é dito acerca da oclumência. Snape explica a Harry que oclumência é a arte de fechar a mente à intrusão e influência mágicas. Não há por que duvidar disso. Afinal, a primeira vez que Snape definiu oclumência, estava diante de Sirius. Não teria como mentir ou dizer algo muito distorcido, pois Sirius teria percebido. 
  
No entanto, no que ele diz acerca de como se faz para conseguir praticar oclumência, há uma coisa que me intriga. A primeira vez que Snape diz algo acerca de como praticá-la, afirma que Harry deve colocar de lado toda a emoção ( O.F.p. 437) e em seguida volta a repetir que ele deve se esvaziar de toda a emoção.
  
No entanto, quando Dumbledore fala com Harry sobre o que aconteceu no Átrio e como Harry conseguiu expulsar Voldemort de sua mente, ele diz que foi o seu coração que o salvou (p.681). Coração, nesse contexto, parece significar emoção. Em quem vocês preferem confiar, Dumbledore ou Snape?
  
Está certo que Dumbledore admite que Harry não conseguiu fechar a mente, mas ainda assim é algo que me deixa com a pulga atrás da orelha, o fato de que a emoção, o que salvou Harry, seja um impeditivo a que ele feche a mente. 
  
É claro que pode ser que a própria autora não se tenha dado conta desse paradoxo e tenha construído as coisas assim mesmo, mas eu acho estranho e me pergunto se Snape não está distorcendo a explicação de como fazer a oclumência. Não acredito que ele esteja mentindo inteiramente, pois, seja ou não confiável, ele não é bobo e, se estivesse boicotando Harry propositalmente, o faria de modo a não ser descoberto com muita facilidade. No entanto, talvez não seja necessário eliminar toda e qualquer emoção, mas apenas algum tipo, quem sabe o medo, a raiva ou alguma outra emoção negativa. Talvez emoções como o amor até possam ajudar na oclumência ou na defesa, como aconteceu no Átrio. 
  
Vista essa questão, vejamos como são as aulas de Snape. Na primeira, logo de cara ele explica o que é Oclumência, o que é Legilimência, diz que quando a mente está relaxada é mais fácil penetrá-la. Conversa um pouco sobre por que Harry precisa aprender oclumência e começa de cara a tentar penetrar a sua mente sem explicar o que se deve fazer para tentar fechar a mente. Isso lá é aula? Como ele pode esperar que Harry feche a mente sem que ele dê instruções sobre o que fazer? Comparem com as aulas do Lupin sobre bichos-papões e patronos, em que este primeiro explicou detalhadamente o que era preciso fazer. 
  
E o absurdo da situação não fica por aí. Apesar da total falta de orientação, Harry consegue impedir que ele veja seus pensamentos, quando se trata da lembrança íntima de seu primeiro beijo. Snape dá algum reforço positivo? Não, Snape o humilha e diz que Harry o deixou penetrar longe demais e que perdeu o controle (pags. 436 e 437). Será que isso é verdade? 
 
Parece-me que não daria para se esperar mais de Harry na primeira tentativa. O próprio Snape não teve desempenho melhor quando Harry se defendeu com o Protego, em aula posterior e permitiu que Harry visse algumas de suas lembranças. E o professor é tido como um magnífico oclumente, como disse Lupin (p.430). E isso deve ser verdade, pois Snape espionou Voldemort, um grande legilimente, na primeira guerra e não foi descoberto (isso, se ele realmente estava enganando Voldemort). 
  
Pois bem, diante da crítica de Snape, Harry reclama que o professor não lhe disse o que fazer. A resposta de Snape é mandar Harry fechar os olhos e esvaziar a mente (como se faz isso? não disse). Lança o feitiço e acessa a cena da morte de Cedrico. Em seguida Snape diz que Harry não está se esforçando e passa a humilhá-lo. Ora, isso é uma mentira. Harry está na primeira aula e não seria de se esperar que já de cara conseguisse mesmo manter o professor fora, principalmente quando esse não lhe deu nenhuma dica de como esvaziar a mente (se é que é isso realmente o que é necessário). E ele até consegue, com esforço, expulsar o professor de sua mente. 
  
A partir daí, o professor segue num comportamento totalmente abusivo, provocando e humilhando Harry de uma maneira que obviamente só pode levá-lo a se encher de raiva. Afinal, trata-se de um adolescente vivendo toda uma situação extremamente frustrante. Como exigir que ele não se enfureça? E para piorar, Snape ataca sem dar tempo a Harry de se defender,o que só pode aumentar a sua raiva. 
  
Na outra aula de oclumência que aparece no livro, tampouco há qualquer instrução sobre o que Harry deve fazer e nenhum reforço positivo quando o garoto consegue se defender com o Protego. Só broncas por Harry estar tendo alucinações com o Departamento de Mistérios. Aqui há um fato estranho. Snape não está tendo acesso a um pensamento ou memória de Harry, já que o garoto nunca tinha visto a porta aberta. Aquela visão estava ocorrendo pela primeira vez e Snape presencia este fenômeno. Será uma grande coincidência? Ou será que é o próprio Snape que a está implantando? 
  
Há um ensaio, chamado “Voldemort Pawns”, de Alexander Benesch, do livro The Plot Thickens que tenta fundamentar a idéia de que Rony está certo e Snape está na verdade ajudando Voldemort a implantar em Harry o conhecimento de como chegar à profecia.
  
O autor conhece algo de técnicas de interrogatório e se impressiona como Snape as utiliza. Ele provoca e enfurece o rapaz e solta perguntas importantes de modo mais suave, que passam quase desapercebidas, como quando pergunta sobre o que era aquela visão em que aparece Rookwood. (p.480). 
  
Outro aspecto é que o plano de Voldemort só poderia dar certo se ele tivesse certeza de que Harry estava reconhecendo o que via nos sonhos. Era preciso que ele soubesse que o que via era o Departamento de Mistérios. E Snape sempre cerca Harry de perguntas a respeito disso. A atitude de Snape pode ser vista como a de preocupação por constatar que Harry ainda tem visões relacionadas a Voldemort. Se verdadeiramente é assim, porém, por que não tenta dar mais dicas a Harry de como se proteger? 
  
A interpretação do artigo citado é outra. É a de que Snape quer estabelecer até que ponto Harry está recebendo as imagens que Voldemort lhe envia e se o rapaz está conseguindo tirar delas as conclusões que Voldemort quer que ele tire acerca de que lugar é aquele e como fazer para chegar lá, o que é fundamental para que o plano do Lorde das Trevas dê certo. 
  
Esta interpretação explicaria outras coisas, também. Em primeiro lugar a sensação de Harry de que “estava piorando a cada aula” (p. 452), sensação tão forte que diz explicitamente a Hermione: “As aulas com Snape estão fazendo piorar” (p. 452). 
  
Em segundo lugar, o fato de que Snapé simplesmente abandona as aulas depois do episódio da penseira, sem avisar ninguém. Se a preocupação dele quando percebe que Harry está sonhando com o Departamento de Mistérios é genuína, ele não poderia deixar o rapaz sem aulas, mesmo que ele, pessoalmente não quisesse mais interagir com Harry. Sabia que Voldemort estava tendo acesso cada vez maior à mente de Harry, então como pode não tomar nenhuma providência? 
  
Por fim, vou mencionar aqui um episódio que não tem relação com as aulas, mas que é mencionado no referido artigo e que também foi objeto de consideração de uma fã aqui do Hogsmeade, que me pediu para que traduzisse sua pergunta a J.K. Rowling. a pergunta era justamente “Por que o pessoal da Ordem demorou tanto para chegar ao Departamento de Mistérios, se eles receberam(não acredito) tão prontamente o aviso de Snape?” 
  
Como a Débora, não acredito que o aviso de Snape tenha sido assim tão rápido. Afinal, depois de que Harry deu o recado a Snape, ele foi até a Floresta Proibida com Hermione e Umbridge, foi ameaçado pelos centauros, seus amigos se juntaram a eles, discutiram um pouco antes de se decidir a montar nos Testrálios, foram até o Ministério,perambularam pelo Departamento de Mistérios até descobrir a Sala da Profecia, lutaram um bom tempo com os comensais da Morte e só depois disso tudo a Ordem chegou. Lembrando que o quartel-general da Ordem é em Londres, mesmo, e não a horas de distância de trem ou de Testrálios, como é o caso de Hogwarts. 
   
Bem, acho que certamente muita gente vai concordar com Hermione e continuar confiando em Snape, porque Dumbledore confia. Mas eu acho que Dumbledore pode ser enganado. Ele é apenas humano. 
  
Fico por aqui, cada dia mais ansiosa acerca do novo livro, que estará nas mãos dos fãs (não todos, eu sei) em duas semanas.


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