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Livros tentam se passar pelo original de J. K. Rowling.
Novos personagens e referências são colocadas nas edições fraudulentas.

Cópia pirata em chinês do último livro de
"Harry Potter" (Foto: New York Times)

Os leitores chineses não agüentaram mais esperar pelo lançamento oficial de "Harry Potter e as relíquias da morte", o tão aguardado sétimo e último livro da série, que aconteceu há pouco mais de uma semana. Mas ao contrário dos fãs impacientes de outros países, eles não esperaram passivamente.

Lançaram um livro de mesmo título, dez dias antes do lançamento oficial mundial em inglês em 21 de julho – uma versão completamente não autorizada que nada tem em comum com o best-seller instantâneo escrito por J.K. Rowling.

As montanhas de fraudes e imitações de Potter aqui são, na verdade, tão abundantes que precisam ser garimpadas camada por camada. Há os livros, como a imitação do sétimo da série, que tentam se fazer passar por obras escritas por Rowling.

Há também cópias de exemplares autênticos, tanto em inglês quanto em chinês, escaneadas, reimpressas, encadernadas e vendidas por uma fatia do preço dos textos autorizados.

Como em alguns outros países, existem as traduções não autorizadas dos verdadeiros livros Harry Potter, além de livros publicados sob o selo de grandes e reconhecidas editoras chinesas, dos quais as próprias editoras alegam não ter conhecimento.

Existem ainda os romances de autoria de escritores chineses novatos que esperam tirar uma casquinha do sucesso da série – às vezes só pelo gosto de conseguir a publicação de seus Potters falsificados por editoras underground que, obviamente, não lhes pagam direitos autorais.

Ninguém poderia dizer ao certo a que volume chegam as falsificações, mas já há pelo menos uma dúzia de títulos de Harry Potter não autorizados no mercado daqui, e isso contando apenas as versões impressas vendidas nos becos e até encontradas em bibliotecas escolares.

Há outras versões publicadas on-line. Entre elas, "Harry Potter e o enigma do príncipe mestiço", uma obra cujo título em chinês lembra bastante o título do sexto livro legítimo de autoria de Rowling, além de puras invenções como "Harry Potter o dragão impetuoso", "Harry Potter e o império chinês", "Harry Potter e os jovens heróis", "Harry Potter e o leopardo disfarçado de dragão" e "Harry Potter e a grande chaminé".

Novos personagens

Alguns desses livros não se contentam em usar os nomes das personagens de Rowling, misturando os famosos protagonistas ingleses com tramas inspiradas em conhecidos épicos do kung-fu e inserindo novas personagens de clássicos da literatura chinesa como "A viagem ao Ocidente".

Em outras palavras, o fenômeno editorial mundial de Harry Potter se transformou aqui em algo totalmente chinês: uma combinação de imaginação extraordinária e diligência surpreendente, tudo isso colocado a serviço da falsificação, fraude literária e violação de direitos autorais.

Wang Lili, editor da China Braille Publishing House, que publicou "Harry Potter e a boneca de porcelana chinesa" em 2002, uma das imitações chinesas, declarou: "Publicamos o livro a partir de uma motivação muito comum. Harry Potter ficou tão famoso que queríamos desfrutar de sua ampla aceitação na China".

A postura revelada no comentário de Wang é suficiente para explicar não apenas a explosão de literatura não autorizada de Harry Potter na China, mas também o problema de dimensões muito maiores ligado à pirataria desmedida nesse país, onde turistas encontram seis versões diferentes de Viagra, vendidas sem receita, nas vitrines de farmácias nos aeroportos, e onde DVDs contrabandeados, Picassos falsificados e até cópias praticamente idênticas de automóveis de marcas famosas estão à disposição de todos.

Neil Blair, advogado da Christopher Little Literary Agency em Londres, que representa Rowling, afirmou que a empresa investiga denúncias de pirataria e se prepara para tomar providências através de seus advogados locais e editoras chinesas, contando com a colaboração da polícia da China.

Em entrevista, Blair contou que o objetivo da agência é deter todos os responsáveis pela produção e venda dos livros: fabricantes, distribuidores e vendedores de rua. "Alguns desses exemplares até sugerem que J.K. Rowling de fato escreveu os livros", declarou Blair, referindo-se às obras piratas. "É possível que as pessoas comprem os livros achando que fazem parte da série e, claro, acabem se decepcionando. Isso é parte de nossa preocupação, protegê-las ao máximo".

Alguns autores locais de "Harry Potter" também não demonstram nenhum sentimento de culpa pelas incursões literárias.

Um desses escritores, gerente de uma fábrica de tecidos de Xangai chamado Li Jingsheng, contou que foi incentivado pela família a desenvolver sua própria versão de "As relíquias da morte". "Comprei os livros do Harry Potter do 1 ao 6 para meu filho há alguns anos e quando ele terminou de ler, ele sempre me perguntava o que iria acontecer depois", explicou ele. "Não deu para esperar, então comecei a inventar minha própria história e, em maio do ano passado, digitei tudo no computador.

Tinha de acordar cedo e ir dormir tarde para conseguir escrever o livro, em geral passando duas horas por dia, das 6 às 7 da manhã e das 10 às 11 da noite, para escrevê-lo, totalizando, em média, umas 3 mil palavras por dia".

O resultado foi "Harry Potter e o grande confronto", um romance de 250 mil palavras, a versão final que recentemente ele veiculou em sites da web, seguida de um comunicado informando que estava à procura de editora. Em pouco tempo, o livro registrou 150 mil leitores em um famoso site chinês, a página da web dos fãs de Harry Potter do Baidu.com.

"Isso é fantástico", Gu Guaiguai, um admirador que escreveu on-line sobre o "Grande Confronto". "Eu me pergunto se Rowling se daria ao trabalho de continuar escrevendo se tivesse lido este livro".

Outro leitor ficou ainda mais entusiasmado. "Você é o orgulho de nossos fãs de Harry Potter", escreveu ele, acrescentando, "Esperamos que você continue firme e escreva Harry Potter número oito", que na verdade, Li já começou a escrever.

Apesar de toda a empolgação do leitor, nenhuma editora entrou em contato com Li, um rapaz de 35 anos que terminou o colegial e que cresceu na província rural de Henan. Ele contou que ele e a esposa, que trabalha na mesma fábrica, juntos ganham o equivalente a cerca de R$ 1.100 por mês.

A falta de editora não o impediu de tornar seu livro disponível para venda na versão impressa nas ruas de Pequim, Tianjin, Dalian e Shenzhen sob o selo da People's Literature Publishing House, a editora oficial da série Harry Potter na China, que afirma que não tem relação nenhuma com a edição de "Grande Confronto".

"Não é permitido usar o nome de Harry Potter em nenhum outro local que não sejam os próprios livros de J.K. Rowling", declarou Sun Shunlin, diretor de desenvolvimento de negócios da editora.

No entanto, nem todos os editores de livros agem em conformidade com essa rígida interpretação dos direitos autorais. Lu Jia, cuja editora, a Ba Shu, admite a edição de uma falsificação, o livro "Harry Potter e o império chinês" há alguns anos, e tudo leva a crer que tenha editado muitos outros, em princípio afirmou que não queria falar sobre Harry Potter. "Houve problemas de violações de propriedade intelectual", disse ela.

Pouco depois, porém, Lu falou sobre a experiência de forma quase melancólica. "Tudo teria dado certo se não tivessem feito a capa tão óbvia, ainda que se copiassem algumas partes da história original", disse ela. "Mas a capa chamou muito a atenção e os estrangeiros se preocupam muito com coisas assim".

Vide: G1.

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