As casas de Hogwarts
Algumas pessoas me cobram voltar a escrever colunas próprias, mas a verdade é que já estou ficando sem assunto. As coisas que pesquisei e que realmente me chamaram a atenção já foram todas mencionadas. Há só um ou outro ponto, uma ou outra característica de algum personagem, que talvez possa dar material para mais uma coluna minha. Não que não haja assunto e vemos a Karol e o Harrylian, além da Luana, empenhados em escrever novas colunas, sobre Luna, oclumência, Dumbledore, todos temas relevantes. Mas a verdade é que euzinha não creio que tenha muito a acrescentar sobre eles. Então não sei se vou conseguir manter a freqüência quinzenal das colunas. Talvez recorra a novas resenhas de colunas que li e achei interessantes.
Hoje, entretanto, ainda tenho um tema para minha quadragésima coluna. Trata-se das características das casas de Hogwarts. O motivo para falar delas é o tanto de incompreensão que a vi a respeito em diversos fóruns e listas de discussões, inclusive na primeira versão do nosso fórum, quando abrimos as casas e não havia membros da Lufa-lufa.
O chapéu seletor coloca os estudantes nas diversas casas seguno suas características, o que provavelmente os ajuda a fazer amigos nelas, já que compartilham alguns valores básicos. Sabemos quais são as características de cada uma delas. Ou achamos que sabemos. Na verdade, na hora das discussões, é possível ver que as essoas interpretam de modo muito diferente as canções do chapéu.
Primeiro vejamos o que sabemos sobre cada uma delas. Começo pela Corvinal, uma das menos controversas. Fica bem claro que é a casa dos que se destacam pela inteligência, saber e espírito. Embora tenhamos conhecido muitos membros da casa: Cho, Luna, Miguel Corner, Padma Patil, o Professor Flitwick, entre outros, não deu para ter uma idéia de como de fato é a interação deles. Já vi gente dizendo que o povo da Corvinal é individualista, mas não creio que tenhamos base para esse tipo de afirmação, nem tampouco para refutá-la inteiramente.
Grifinória é a casa dos valentes e nobres. É a casa que conhecemos melhor, pois nela estão os personagens que conhecemos melhor. Há bastante diversidade entre eles, do Hagrid ao Pettigrew, de Hermione a Neville, de Percy aos gêmeos. Mais ou menos habilidosos, leais, ambiciosos ou inteligentes, a coragem deveria ser a sua característica fundamental e realmente a detectamos na maior parte dos grifinórios conhecidos, embora eu não tenha conseguido ver aonde está a coragem de Rabicho. Mas não por acaso é uma casa que fornece muitos quadros para a Ordem da Fênix e para a Armada de Dumbledore.
Nossos problemas de interpretação se tornam maiores nas demais casas. Sonserina é descrita de modo diferente nas três canções do chapéu que vimos até agora. Na primeira é colocada como a casa dos astutos, que usam qualquer meio para atingir seus fins. Na canção que Harry ouve em seu quarto ano, a ambição é a qualidade enfatizada, mais do que a astúcia. É verdade que na primeira canção ela não estava de fora, já que a busca sem freios pelos seus próprios fins, denota ambição. Na canção do quinto ano, entretanto, a questão da pureza de sangue parece ganhar maior relevância. Será que os bruxos de puro sangue são mais ambiciosos e astutos? E vice-versa? Por que uma coisa estaria relacionada à outra? Ou será que o chapéu seletor leva em conta as duas coisas, meio que tirando uma média delas?
Uma coisa que notei acerca de como a sonserina é vista, é que muita gente atribui aos seus membros inteligência, esquecendo que ela é a casa de duas bestas quadradas como Crabbe e Goyle. O fato de ter pessoas sarcásticas entre seus membros, como Snape e Malfoy não significa nem que todos os sonserinos seja sarcásticos, nem muito menos que sejam inteligentes ou saibam ser sutis. É claro que a sutileza de um Malfoy ( e aqui me refiro a Lúcio E Draco) pode ser útil na arte da manipulação astuta das pessoas para se atingir a um fim, mas não é a única forma em que a astúcia e a ambição podem se manifestar.
Outra questão que envolve a Sonserina é o fato dela ser associada aos bruxos das trevas. Hagrid menciona no primeiro livro que todos os que se associaram a Voldemort vieram de lá. Mas temos que ter cautela ao interpretar essa passagem. Em primeiro lugar porque Hagrid está exagerando. Sabemos que não é verdade, Pettigrew não era Sonserino, nem Sirius Black (que, àquela altura ainda era tido por Hagrid como um grande aliado de Voldemort). Por outro lado, seria mesmo de se esperar que Voldemort encontrasse uma percentagem maior de aliados na Sonserina, tanto pelo lado de sua ênfase na pureza do sangue, como pelo fato da casa abrigar gente mais levada pela ambição e astúcia. Estas qualidades, porém, por si só não levam à maldade nem aos crimes perpretados pelos Comensais da Morte. Nem a inteligência, coragem ou lealdade são qualidades que garantam o bom caráter de ninguém.
Uma dúvida que não consigo sanar é por que o chapéu seletor cogitou seriamente de colocar Harry lá. Harry é um tanto competitivo, mas não me parece amabicioso. Muito menos usa de quaisquer meios para atingir seus fins, mesmo que não tenha muitos escrúpulos em quebrar regras. Ele as quebra sim, mas quando o faz não é para atingir fins pessoais, ambiciosos. Geralmente quando quebra regras é para melhor enfrentar Voldemort ou para ajudar seus amigos (como no caso de Norberto). Talvez o chapéu não estivesse olhando só para Harry, mas para a conexão entre o rapaz e Voldemort, que, segundo penso, é garantida por uma pequena parte do Lord das Trevas ter ficado na cicatriz do rapaz.
Outra questão envolvendo a Sonserina é o seu fundador. Muitas vezes Salazar Slytherin é colocado como alguém terrivelmente perverso. Tenho minhas dúvidas se de fato foi assim. Afinal, ele foi muito amigo dos demais fundadores da escola. E, embora o preconceito contra trouxas e nascidos trouxas seja sempre algo condenável, era mais compreensível numa época em que bruxos eram muito mais perseguidos do que nos tempos atuais. Ou seja, sabemos sim que Slytherin era preconceituoso, mas será que ele era tão mau quanto seu último descendente? Não me parece.
Alguém poderia dizer que deixar o basilisco para matar nascidos trouxas é um requinte de crueldade. Realmente é. Só que sabemos muito pouco acerca dessa história. Que bicho é esse que fica mil anos preso numa Cãmara Secreta? O professor Binns disse que a história do monstro da Câmara era uma lenda. E se isso for verdade? E se a Câmara foi construída com outra finalidade e o monstro foi parar ali por obra e graça de Tom Riddle? Se Slytherin tinha tanta raiva dos nascidos trouxas, por que não usou o monstro enquanto estava em Hogwarts? Qual o propósito de prender um basilisco que deverá ser usado pelo seu herdeiro mais de novecentos anos depois? Essas questões podem simplesmente ser mais um monte de coisas esquisitas que aparecem numa história quando começamos a questionar muito, mas acredito que saberemos mais sobre Slytherin e a Câmara no próximo livro.
Finalmente chegamos à casa mais imersa em interpretações conflitantes, a Lufa-lufa. A confusão se dá pelas muitas coisas diferentes que os livros dizem acerca dela. Logo que ouvimos falar em casas, quando Malfoy ainda está experimentando vestes na loja de Madame Malkin, o garoto manifesta um profundo desprezo pela casa e um horror à idéia de dela fazer parte. Em seguida é Hagrid que comenta que muitos dizem que ela só tem panacas. Quando o chapéu seletor finalmente canta sua primeira canção diz que é a casa dos justos, leais, pacientes, sinceros, sem medo da dor. São muitas qualidades, não? Por que alguém assim caracterizado seria considerado panaca? Apesar do que diz o chapéu, ainda no primeiro livro há um reforço da idéia de que a Lufa-lufa não deve valer muito a pena. Hermione parece achar que ela não presta, o seu time de quadribol não é levado muito a sério e ela fica em último lugar no campeonato das casas daquele ano.
Nos livros dois e três não há canções do chapéu, mas há um fato significativo. Apesar de não darem muita bola para ela, é a única casa que ganha um jogo contra Harry em toda a série. Na canção do quarto ano, já não é mencionada nenhuma das qualidades anteriores e ela é descrita como a casa dos aplicados. Volta-se a passar uma idéia de que trata-se de uma casa não tão interessante, quando se afirma que a escolha de Cedrico representou uma glória rara para a casa. Por fim, no quinto ano, o chapéu diz que para a Lufa-lufa foi o resto, isto é, aqueles que não se caracterizavam pela inteligência, nem pela astúcia, nem pela coragem.
Se já havia um certo preconceito contra a Lufa-lufa, com muita gente assumindo o que foi verbalizado por Draco, confirmado por Hagrid, e que esteve presente nesse pequenos detalhes que mencionei, depois do livro cinco é que o desprezo pela Lufa-lufa ficou realmente forte. A Lufa-lufa passou a ser vista de fato por muitos fãs da série como a casa dos panacas. E as pessoas esquecem que é dela que sai o único campeão de Hogwarts e o vencedor do torneio Tribruxo, Cedrico Diggory. Sim, pois aparentemente Harry não foi escolhido pelo Cálice para representar Hogwarts. O falso Moody insinua que o Cálice teria sido induzido a pensar que havia uma quarta escola e parece bastante plausível que de fato tenha sido isso o que o levou a escolher um garoto tão pouco treinado quanto Harry. E se Harry também ganha o torneio, junto comCcedrico, é porque teve “ajuda” em muito maior escala. Tudo leva a crer que, não fora a interferência de Crouch Jr., seria Cedrico o único campeão do torneio.
Pois apesar disso e das qualidades da professora Sprout, enquanto professora e enquanto criadora das mandrágoras que salvam os petrificados no segundo livro, muitos fãs acham que Lufa-lufa é a casa dos ineptos. Quando ainda não se sabia a casa dos Marotos, muita gente dizia que Pettigrew era da Lufa-lufa, ou tinha características daquela casa. Eu quase tive um treco num fórum, lembrando aos membros que a Lealdade é uma característica da casa, qualidade que certamente faltava a Rabicho. Na minha interpretação essa seria a última casa onde ele poderia ser colocado.
Mas no meio de tantas coisas diferentes ditas sobre a Lufa-lufa, o que a caracteriza de fato? Pensemos nos membros dela: Cedrico, Macmillan e a professora Sprout são os que melhor conhecemos e todos apresentam as seguintes características; são pessoas afáveis, trabalhadoras, que não saem por aí se jactando dos seus feitos. Os lufas parecem trabalhar em grupo e dar suporte um ao outro (pensem em como defenderam Justino, quando acharam que estava sendo ameaçado por Potter). São muito sinceros em suas convicções e não têm dificuldade em reconhecer os seus erros. Macmillan se desculpou com Harry quando viu que o julgara mal. Cedrico faz questão de retribuir a dica que recebera. Zacarias Smith, apesar de suas dúvidas, acaba aceitando a liderança de Harry sem problemas. Por que então a Lufa-lufa parece ter o desprezo de tantos bruxos? E quais são de fato as suas qualidades?
Como as coisas sobre a Lufa-lufa estão de fato confusas nos livros, só posso dar uma interpretação pessoal. Ao ler a canção do quinto livro, não achei que o “resto” significasse aqueles que não têm outras qualidades. Na canção, as três outras casas são descritas pelas maneiras como seus membros se destacam: pela ancestralidade e posição social, pela inteligência, pelos nobres feitos. A Lufa-lufa pega os que não se destacam por nada disso. Mas não vejo isso como uma deficiência, interpreto como querendo dizer que na Lufa-lufa ficam os que não estão preocupados em se destacar, mas apenas em cumprir suas obrigações com afinco e paciência, preservando o espírito de grupo e de equipe, não com vistas à glória, mas à melhor convivência. É a casa em que os laços entre seus membros são mais fortes, pois dão mais valor à lealdade do que a efêmeras situações de fama ou prestígio. São o anti-Gilderoy Lockhart, por assim dizer. Acabo por concordar com os que acham que o chapéu deve ter pensado em colocar o Neville lá, pelo tempo em que demorou para se decidir. Mas por motivos diferentes dos usualmente alegados. Não é porque o garoto é atrapalhado, nem porque gosta de Herbologia, mas porque as qualidades acima certamente são parte de Neville, que, ademais, não é particularmente inteligente nem ambicioso.
E é por tudo isso que os membros das outras casas não entendem os da Lufa-lufa, porque aspiram à glória, seja pelo brilho intelectual, pelos feitos de bravura, seja pelo prestígio social alcançado por que meios for. Eles vêem a Lufa-lufa pelo seu próprio prisma(deles), que necessariamente a coloca por baixo.
As qualidades da Lufa-lufa, entretanto são de vital importância para a vitória na guerra que se inicia: extrema lealdade, trabalho paciente, sinceridade e correção de propósitos. E ainda creio que até o fim da série teremos outra visão desta casa, que considero extremamente simpática. Só não a adotei porque realmente sou preguiçosa e isso não combina com ela.
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