:: Sala das Profecias ::
Por Lilyp — Novembro de 2006
Continuando no assunto do que podemos esperar do próximo livro da série, resolvi debater o que será a busca das Horcruxes.
Tenho visto muita gente manifestando a opinião de que essa busca será algo muito cheio de ação e aventura, seja em fanfics, seja em argumentações em fóruns. Uma busca que tomaria muito tempo de tocaias em locais guardados por Comensais da Morte ou o trio fazendo rodízio de vigília, acampado em florestas sombrias.
Como fanfic pode até funcionar, para quem gosta desse tipo de história, que, porém, não tem nada a ver com Harry Potter. Mas certamente não é isso o que acontecerá. Por vários motivos. O principal é que Harry Potter nunca foi esse tipo de história de ação. Embora haja sempre algumas cenas de ação, os livros são muito mais histórias de mistério. Há alguma coisa a ser descoberta, que Harry está interessado em desvendar e ao fim tudo se esclarece, a estrutura dos livros é sempre algo por aí. Não há razão para supor que a do último livro será totalmente diferente da dos anteriores.
No entanto podemos explorar um pouco mais o que se deve esperar e o que é pouco plausível. Tocaias, por exemplo, são extremamente pouco prováveis em minha opinião. Como já coloquei em colunas anteriores, dificilmente Voldemort falou de suas Horcruxes aos seus Comensais. Só para lembrar os argumentos brevemente, poucos são os Comensais realmente leais a Voldemort, como Belatriz e seu marido. Quase todos eles trataram de tocar suas vidas quando o feitiço lançado sobre Harry ricocheteou e o Lord das Trevas perdeu o seu corpo. Não se preocuparam em descobrir onde estava ou como ajudá-lo. Será que Voldemort pode confiar a essas pessoas o segredo de sua imortalidade? Claro que não. Isso só facilitaria que algum deles resolvesse trocar de posição com Voldemort, destruindo as Horcruxes deste e fazendo outras para si. Voldemort baseia seu poder nas coisas que só ele sabe e consegue fazer que fazem com que todos o temam.
Portanto as proteções às Horcruxes serão exatamente aquelas que vimos até aqui, no caso do anel e do medalhão: feitiços, poções, maldições, criaturas das trevas, nada nem ninguém que possa se voltar contra o próprio Voldemort.
Além disso, se Voldemort desconfiasse que Harry conhece seu segredo, o que faria?
Bem, já é de se esperar que, de qualquer maneira, Voldemort esteja tentando pelo menos vigiar Harry. Talvez matá-lo, dependendo da teoria. Então, o fato de Harry estar ou não atrás das Horcruxes não muda muito isso, a não ser por tornar a tarefa de Harry mais difícil, por ser necessário evitar que Voldemort perceba o quanto ele sabe. Ou seja, Voldemort não vai aumentar sua perseguição de Harry nem este vai ter maior necessidade de se esconder do que teria, caso não estivesse à procura de Horcruxes. A perseguição e a necessidade de se esconder aconteceriam de qualquer modo, agravadas pela morte de Dumbledore.
É de se esperar, no entanto, que Voldemort faça alguma coisa, provavelmente tente proteger ainda mais as Horcruxes restantes e há o perigo, se ele notar que sobraram só uma ou duas, que desista da magia do número sete e faça mais algumas ou busque outros métodos de alcançar a imortalidade, métodos que Harry desconhece e não tem como combater.
É em virtude dessas razões que não creio que Voldemort vá descobrir nada até que a busca esteja muito avançada e não lhe sobre tempo para tomar nenhuma providência. A descoberta antecipada deslocaria inteiramente a importância do que Harry já sabe sobre Horcruxes, quantas são etc. Elas passariam a ter um número indefinido e o rapaz não poderia nunca ter certeza de que realmente as teria destruído todas.
Aliás este também é um motivo a mais para eu não gostar da maioria das teorias que vêem Harry como uma Horcrux acidental que existem por aí, o fato delas significarem a existência de um número maior que sete da alma de Voldemort, tirando o significado mágico do número delas e fazendo com que Harry não possa ter mais certeza de nada.
Mas não é só a idéia de um livro cheio de tocaias e lutas esparsas entre o trio e Comensais que eu acho absurda. Outra coisa que me parece extremamente improvável é que os amigos saiam por aí acampando em florestas e locais ermos e ficando em vigília. Parece que as pessoas esquecem que eles são bruxos, que podem aparatar e ir para onde quiserem. Por que dormiriam mal acomodados no meio do nada, se podem dormir na casa protegida do Largo Grimmauld, por exemplo? Basta aparatar. Tudo bem que Snape pode ir até a casa, mas é mais fácil eles criarem uma proteção anti-Snape, talvez um novo feitiço Fidelius, do que ficar vagando em locais ermos, muito mais difíceis de serem protegidos.
Outra questão relevante é acerca do que consiste a busca das Horcruxes. Não se trata de uma busca aventurosa do estilo Indiana Jones, em que há algumas localizações prováveis e o herói sai perguntando às pessoas. Vejam bem, ninguém deve saber das Horcruxes e elas não estão em evidência. Voldemort tem interesse em escondê-las, em não chamar a atenção sobre elas. Uma das teorias sobre as Horcruxes que surgiram logo após o lançamento de Príncipe foi que o Chapéu Seletor seria uma delas e esta foi a primeira questão do livro seis que a autora abordou em seu sítio, dizendo que “Horcruxes não chamam a atenção para si cantando músicas para grandes platéias.”
Ou seja,como eu disse antes, ir atrás de Horcruxes não é procurar uma coisa mais ou menos famosa, mas estranha, que chama a atenção de um monte de gente. É antes um exercício de investigação do passado de Voldemort e dos fundadores, de pesquisa sobre que relíquias restaram, quais podem ter sido apropriadas por Voldemort e que lugar ele poderia achar interessante e significativo para escondê-la. É também descobrir como desfazer os feitiços por ele lançado e como destruir a Horcrux. Numa busca mais para Sherlock Holmes do que para Batman. Como aliás tem sido em todos os livros até aqui, embora a busca nem sempre tenha tido resultados.
Na verdade, simplifiquei um pouco, pois as situações das várias Horcruxes são diferentes entre si. Para achar o medalhão, Harry e seus amigos terão que descobrir quem é R.A.B. e o que ele pode ter feito dessa relíquia. Se o medalhão for mesmo aquele que estava no Largo Grimmauld, o problema é investigar onde foi parar, se Monstro o pegou , ou Mundungo, e aonde o levaram. Não haverá provavelmente feitiços protetores a desfazer.
Para achar Nagini, Harry já estará no fim de sua busca, pois a cobra se acha junto de seu dono e protetor, mas ela também, aparentemente não está protegida por feitiços especiais ou poções. Aí é a única ocasião em que pode fazer sentido ação do tipo Indiana Jones.
As questões a serem investigadas nos termos que eu coloquei antes são então o paradeiro e proteção da taça de Hufflepuff e a descoberta da última Horcrux e sua localização. Se eu tiver razão e ela estiver na cabeça de Harry, também não haverá feitiços protetores e o problema vai ser como destruí-la sem matar o herói.
Haverá ação? Sim, é claro, mas essa não será a tônica do livro. Haverá momentos de ação, provavelmente na hora de pegar a taça e de enfrentar Nagini e Voldemort. É possível até que haja ainda mais ação após a destruição de Voldemort, de modo a que se vença os demais Comensais, inclusive Snape, se estiverem certos os que acham que ele não estará do lado de Harry até o final. Mas, como nos demais livros, provavelmente a ação estará concentrada em alguns momentos chave, deixando bastante espaço para a outra parte da história, a saber o amadurecimento do herói.
Sim, porque esses livros não são apenas histórias de luta do Bem contra o Mal. Também têm um lado muito forte de “coming of age drama, isto é, de abordar as dificuldades de um jovem em seu caminho rumo à maturidade. Os namoros, as brigas no interior do trio, personagens como Romilda Vane ou Lilá(Lavender) Brown têm importância justamente nessa parte da história. E esse lado também precisa ter um desfecho. Harry e seus amigos precisam amadurecer mais, conhecer melhor a si mesmos, admitir mais e melhor seus amores, suas fraquezas, sua humanidade, sua fragilidade diante da morte. Isso também deverá ocupar bastante do livro, como aconteceu com os demais, o que não seria posível numa história de pura ação.
A própria utilização do amor como o poder que o Lor das Trevas desconhece só é possível se Harry souber mais sobre esse poder, conhecer-se melhor como homem e cidadão com necessidades e capacidades particulares que o tornam O Eleito. Uma história de pura ação não daria muito espaço para que o amor se manifestasse como ferramenta chave na luta contra Voldemort. Onde entraria o amor em meio a cenas de batalha?
É por achar que o caráter da busca das Horcruxes tem muito de investigação dedutiva que considero perfeitamente possível a volta do trio a Hogwarts, assunto que já discuti bastante na minha coluna anterior.
Bem, como vocês vêem, minha expectativa é que o último livro seja parecido com os anteriores, com a mesma ênfase no mistério, repleto de humor, com dramas, dores e perdas de crescimento e uma luta entre o Bem e o Mal. Repetindo os mesmos elementos que todos amamos tanto.
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