:: Sala das Profecias ::
Por Lilyp — Outubro de 2006
Hoje pretendo examinar as coisas ditas no final do último capítulo de Príncipe e até que ponto elas estão de fato preparando o cenário do llivro sete.
Depois de se separar de Gina, Harry tem uma breve conversa com o Ministro da Magia, na qual reafirma sua postura de fidelidade a Dumbledore. A seguir troca algumas palavras com Rony e Hermione. O que essas coisas podem significar?
Começando com o que Harry disse a Rufo Scrimgeour, demontrando que mesmo depois de Dumbledore morto, Harry não arredou um milímetro de sua posição de lealdade ao antigo diretor de Hogwarts. Nem de sua recusa a dar força a uma política que considera mistificadora e equivocada.
No entanto, qual a necessidade desta cena? Harry não diz nada de novo nela, apenas reiterando o que já tinha dito e feito no Natal. Será que isso é assim tão necessário? Por que foi escrita?
Não tenho certeza do que pensar a respeito, mas parece-me que o propósito dela, além de reforçar para o leitor quais são as convicções de Harry e lembrar que a sombra de Dumbledore e de seu exemplo continuam pairando em Hogwarts, é o de mostrar mais uma vez como Harry está impregnado do Poder que o Lord das Trevas desconhece. Vocês talvez estejam estranhando o que acabei de escrever. Afinal, sabemos, pelo que Dumbledore disse a Harry e foi confirmado pela autora, que este poder é o amor. O que amor tem a ver com o que Harry disse a Scrimgeour?
Não está claro como o amor poderia ajudar Harry a derrotar Voldemort, mas Dumbledore deu uma importante dica:
“– Resumindo, você está protegido por sua capacidade de amar! – disse Dumbledore em voz alta. – A única proteção eficaz contra a fascinação por um poder como o de Voldemort! Apesar de todas as tentações que você suportou, de todo o sofrimento, o seu coração permanece puro, tão puro quanto era aos onze anos, quando você se mirou no espelho que refletia o maior desejo de seu coração, e ele lhe mostrou apenas o caminho para frustrar Lord Voldemort em vez de imortalidade ou riqueza.”(Príncipe, pp. 400-401)
Dumbledore coloca aqui claramente que a capacidade de amar protege Harry contra a fascinação do poder, mantendo puro o seu coração e fazendo que coisas que seriam altamente tentadoras para qualquer outra pessoa, como a riqueza ou a imortalidade, não podem corrompê-lo. Ora, as interações de Harry e Scrimgeour reforçam essa idéia. O coração puro de Harry não lhe permite deixar-se tentar pelo que o Ministro lhe oferece, nem prestígio, nem privilégios para conseguir entrar na carreira de auror, nem proteção de aurores, nada o demove do caminho que traçou para si, que não admite concessões à opinião pública nem às necessidades políticas. Não é só Voldemort que não consegue entender o quanto Harry não é corruptível, Scrimgeour também tem o mesmo tipo de dificuldade.
Não é difícil imaginar como essa característica de Harry pode ser difícil de compreender para pessoas que amam o poder. Scrimgeour não a entendeu no Natal, tanto que voltou à carga e tentou corrompê-lo mais uma vez. Voldemort pode cometer o mesmo erro, procurando tentar Harry a mudar de lado, oferecendo-lhe poder, riqueza e possivelmente a chance de não morrer. Esta seria uma boa maneira de Harry derrotar Voldemort, apesar de ser muito menos poderoso magicamente. O Lord das Trevas baixa a guarda, pensando que conseguiu dobrar Harry com ofertas que qualquer outra pessoa aceitaria, sem atinar o quanto Harry é diferente dos demais seres humanos. E assim, acaba se deixando enganar e destruir. Realmente creio que apontam para esta direção as reiteradas situações em que Harry não se deixa atrair por riqueza ou poder, nem se dobra por ameaças e as vezes em que arrisca a vida só porque acha necessário, sem tirar nenhum prazer da adrenalina do risco corrido. Ou seja, a ele não importam aquelas coisas que são as mais valorizadas por Voldemort e pela maioria dos homens. Exemplos: Espelho de Ojesed, descida à Câmara, segunda tarefa, prêmio da segunda tarefa doado aos gêmeos, conversas com Scrimgeour, enfrentamentos com Umbridge, ida ao Ministério atrás de Sirius. Hermione está errada, não se trata de “mania de salvar as pessoas” (Fênix, p. 594), mas algo mais profundo, uma compulsão de fazer a coisa certa, sem se importar com o que de ruim pode lhe acontecer em conseqüência, nem se apegar a riqueza, prestígio ou poder. Dumbledore, nos livros, associou isso a amor e ao poder que o Lord das Trevas desconhece.
O último ponto que gostaria de mencionar é a conversa do trio no final do capítulo. Alguma coisa dela já foi mencionada na coluna anterior, qual seja, o fato de que Harry não tenta demover os amigos da idéia de o ajudarem. Como eu argumentei, Rony e Hermione já são tão associados a Harry por todos no mundo bruxo, que seria fútil tentar convencer alguém que eles não são amigos ou que Harry não seria profundamente atingido caso Rony ou Hermione sejam capturados. Portanto, Harry não pode livrá-los de nenhum perigo ao se afastar deles, como acha que fez com Gina. Além disso, Dumbledore alertou Harry que ele precisaria de apoio e que deveria confiar nos dois. Eles sabem da profecia, das Horcruxes e podem auxiliar Harry a procurá-las e destruí-las e o rapaz certamente precisa de ajuda.
Parece então que já está traçado o rumo do próximo livro. Muitos acham que veremos os três amigos caçando Horcruxes por toda a Grã Bretanha. Eles não voltarão a Hogwarts para dedicar-se integralmente a esta tarefa.
Permitam-me discordar. J.K.Rowling nunca foi óbvia. Além do mais ela é professora e parece-me estranho que faça com que a maioria dos principais personagens (o trio e os gêmeos), incluindo a menina mais estudiosa, não terminem a sua educação. Professores costumam minimamente valorizar a escola, mesmo que saibam que ela não é a única fonte de conhecimento e que, eventualmente, pode não fazer sentido freqüentá-la até o fim. Não terminar a escola cabe no caso dos gêmeos. Mas não no caso de Hermione, nem do herói.
Além do mais há algumas entrevistas antigas em que Jo parece afirmar claramente que Harry terminará Hogwarts e que o último livro contará o seu sétimo ano.
A Judy O’Malley, em julho de 1999, a autora disse: “Como imagino, haverá sete anos na escola de bruxaria, Harry será um bruxo plenamente qualificado e é então que lhe é permitido usar magia fora da escola. Portanto vocês o verão em seu último ano em Hogwarts.”
No programa de Diana Rehm, no Natal de 1999, J.K.Rowling disse: “Sempre planejei que veríamos Harry da sua entrada em Hogwarts até terminá-la, que é... No meu mundo,os bruxos alcançam a maioridade aos 17 – 17 anos. Então no livro 7 vocês verão Harry tornar-se maior, o que significa que ele pode usar magia fora da escola e verão o fim desse ano escolar. Ou seja, serão sete anos de sua vida.”
Alguns podem achar que 1999 já foi há muito tempo e ela pode ter mudado de idéia completamente. Não acredito muito, pois naquela altura ela já havia publicado três livros e na última entrevista devia estar muito adiantada na redação do livro quatro. Ou seja, não houve muita coisa escrita depois que possa ter levado Jo Rowling a fazer mudanças muito radicais em seu último livro.
As citações anteriores parecem significar que haverá um sétimo ano de Harry em Hogwarts e que ele completará sua vida escolar. Mas e a busca das Horcruxes, como ficará?
Uma coisa que eu gostaria de lembrar é que talvez não seja preciso que ele fique muito tempo fora da escola viajando para descobri-las. Só soubemos de Dumbledore viajando atrás de informações neste último ano. No entanto, antes mesmo do início do livro, ele já tinha descoberto a maior parte das informações que passou a Harry, pois quando foi buscar o rapaz já usava o anel e já tinha destruído a Horcrux nele abrigada. O que significa que já tinha descoberto a casa dos Gaunt e já conhecia o conteúdo das cenas da penseira mostradas a Harry que se passaram naquela casa. O empenho de Dumbledore em trazer Slughorn de volta a Hogwarts também parece indicar que ele já sabia que este conversara sobre Horcruxes com Tom Riddle.
Com isso, quero dizer que quase todas as informações que Dumbledore conseguiu foram obtidas sem que isso atrapalhasse a sua permanência em Hogwarts. Por que Harry deve ir para Hogwarts, porém?
1. Lá é um bom lugar para se pesquisar
Harry não parte do nada. Já tem uma boa idéia de quais são três das quatro Horcruxes. Uma delas está com Voldemort (a cobra) e só faz sentido procurá-la depois de ter destruído as demais. Outra, o medalhão, tudo indica ser o que estava na casa do Largo Grimmauld (traduzido em Fênix por camafeu). Harry terá que lembrar dele e depois descobrir onde foi parar, mas as alternativas parecem ser claras: Mundungo ou Monstro devem saber dele. Portanto o que Harry tem mesmo que descobrir é onde está a taça, qual é a última Horcrux e onde está e o que dve fazer para destruí-las.
Como ele pode descobrir essas coisas? Provavelmente Dumbledore deve ter deixado mais informação para ele, mas fora isso, Harry terá que procurar saber mais sobre os fundadores e pensar em lugares significativos para Tom Riddle ter escondido suas Horcruxes. Tanto para uma coisa, como para a outra, Hogwarts é um bom ponto de partida. Onde obter mais informações sobre os fundadores do que na escola que fundaram? E, sendo Hogwarts o lugar que Riddle considerava como o seu lar e onde começou sua carreira de crimes, não parece razoável que ali esconda uma das Horcruxes?
2. Lá ele faz contatos
Algumas das informações que Dumbledore passou a Harry foram conseguidas porque Dumbledore conhecia muita gente no mundo bruxo, como Robert Ogden ou Burke, por exemplo. Mas Harry não conhece quase ninguém no mundo bruxo e atrairia atenção e suspeita se saísse por aí perguntando coisas a desconhecidos. Ele precisa fazer contatos e obter informações de modo que não chame a atenção. Como fazê-lo?
Para mim, os livros já nos disseram sutilmente como isso pode acontecer – nas festas de Slughorn. O atual professor de Poções representa a melhor oportunidade que Harry tem de conhecer gente importante, gente que possa ter sabido de algo interessante. Slughorn porém, quando fora de Hogwarts, estava escondido, sem poder fazer suas festinhas. A única possibilidade de Harry conhecer gente nessas festinhas é se ambos voltarem a Hogwarts.
3. Harry não pode chamar a atenção
Sendo o rapaz maior de idade e tendo terminado a sua proteção na rua dos Alfeneiros, Harry possivelmente estaria na mira dos Comensais da Morte. Ter que ficar a toda hora mudando de esconderijo não é muito prático. Hogwarts é um lugar mais protegido, embora possa haver outros furos em sua segurança, além do detectado por Draco.
Mais importante do que essa segurança, porém, é o fato de que Voldemort ficaria intrigado se as aulas voltassem e nem Harry, nem Rony, nem Hermione retornassem à escola. Por que justo os três não o fariam? Hermione deixar de freqüentar a escola decididamente chama a atenção. Gina voltar e seu irmão não também é algo muito suspeito. É óbvio que algo assim não pode ser escondido do mundo bruxo e acabaria por chegar aos ouvidos de algum Comensal.
4. Lá Harry encontra conselhos de Dumbledore
O retrato de Dumbledore não substitui o próprio, mas sempre terá conselhos interessantes.
5. Harry precisa se preparar para o enfrentamento final
Voldemort é o bruxo mais poderoso e Harry nem sempre consegue lançar feitiços não verbais. É óbvio que ele precisa treinar mais, para o caso de ter de enfrentar face à face o Lord das Trevas.
Na minha opinião, Harry vai acabar percebendo boa parte das coisas listadas acima e verá que não há muito o que fazer fora da escola. Mas ainda terá tempo nas férias de ir a Godric’s Hollow e ao túmulo de seus pais.
Não estou afirmando aqui que Harry terá um ano escolar normal. É bem possível que consiga permissão de Minerva para dar uma ou outra fugida quando precisar investigar algo. É capaz que volte à escola já com o ano letivo iniciado ou até que a própria escola não se reinicie no dia 1 de setembro, como todos os anos,mas que haja algum adiamento, dando a Harry mais prazo para pesquisas fora da escola antes das aulas recomeçarem. Contudo, acredito que o trio volta à escola a tempo de terminar seu ano letivo.
Além disso tudo, há coisas que estão em Hogwarts que precisam ser abordadas, como, por exemplo, o apelo do Chapéu Seletor pela união entre as casas ou o livro com as anotações do Príncipe. Harry possivelmente ainda precisará dele. E sabemos que o carro do Sr. Weasley deve reaparecer.
Espero ter conseguido convecê-los de que a volta a Hogwarts parece bem plausível. Acho que ainda voltarei ao tema, mas não de imediato.
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