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:: Sala das Profecias ::

Por Lilyp — Março de 2007

Sabem qual é o maior enigma do Príncipe? É o de por que o livro tem esse nome. Não me refiro aqui especialmente ao nome da edição brasileira, nem ao príncipe misterioso da edição portuguesa, ou ao príncipe mestiço que nomeia o capítulo nove. A questão é por que essa historinha chegou ao título do livro seis?

É interessante que já se passaram vinte meses do lançamento do livro e praticamente não vi especulações sobre isso. Já vi centenas de explicações sobre Horcruxes, R.A.B, sobre Snape e Dumbledore, teorias sobre poções do amor, especulações sobre se Harry volta a ficar com a Gina e sobre a relação Remo/Tonks. Os assuntos mais disparatados foram abordados e as teorias mais alucinadas, mas praticamente ninguém disse: - Mas por que mesmo que o livro tem esse título? Esse tal de Príncipe não tem nada a ver com o que de mais importante acontece no livro, ou ao menos assim parece.

Pensem bem, se o livro de poções não existisse o que mudaria na trama? Harry não teria lançado o Sectumsempra em Malfoy. Algo mais? Ele não tem nenhuma relação aparente com as cenas da vida pregressa de Voldemort que Harry discute nas aulas de Dumbledore, nem com o desenrolar da guerra, nem com o atentado tramado e levado a cabo por Draco, que são os temas principais do livro.

Também não é uma parte especialmente engraçada ou interessante do livro e mesmo o suspense em torno da identidade do príncipe não é lá essas coisas.

No entanto, não apenas esse é o nome do livro seis, como chegou a ser o nome do livro dois enquanto JKR ainda não o tinha escrito. Daí a autora decidiu separar essa parte da outra referente ao diário de Tom Riddle, mas a levou mais para a frente, porque caberia melhor ali. Vejam bem, essa parte não foi sumplesmente suprimida. Foi mantida e chegou ao título de um livro, sem que ninguém atinasse que essa manobra devia ser importante.

Já escrevi uma coluna sobre esse assunto, mas a verdade é que não consegui avançar muito nela. E nem sei se o faço aqui. Mas tenho que falar disso, porque acho que esse assunto, obviamente relevante, já foi ignorado por tempo demais. Então perdoem-me se vou resvalar para um excesso de especulação, mas é que realmente as dicas que temos são poucas.

O que sabemos da parte da história em que se menciona o príncipe?

1. Slughorn emprestou a Harry um livro com muitas anotações, que aparentemente já era da escola desde os tempos em que Snape ainda era o professor de Poções. Essas anotações são muito precisas e úteis e permitem a Harry tornar-se o aluno de melhor desempenho em sua classe. Além disso o livro também apresenta um ou outro feitiço não conhecido previamente por Harry.

2. O livro pertenceu a alguém que se autodenomina Príncipe Mestiço. Snape depois admite ser o Príncipe. Ele é mestiço, filho de pai trouxa e mãe bruxa, e sua mãe tem o sobrenome Prince (príncipe em inglês).

3. Harry não sabe de quem é o livro, só sabe que seu pai usou um dos feitiços ali anotados. Pergunta a Remo, que diz que todos usavam o dito feitiço na época em que estavam na escola, mas sugere a Harry verificar a data do livro. Harry verifica que o livro é de cinqüenta anos antes.

E isso é tudo. Vamos então discutir cada um desses pontos.

1. Evidentemente o livro pertenceu a alguém que tinha amplo domínio sobre o preparo de poções. Alguém que aparentemente não se interessou em divulgar o seu conhecimento para mais ninguém, pois nem Slughorn, nem Hermione conhecem essas maneiras alternativas de preparar poções.

A letra das anotações é difícil de ler e Rony admite que não a conseguiria ler sem a ajuda de Harry. Os três amigos têm amplo acesso ao livro e às anotações, mas nenhum deles reconhece a letra.

2. O apelido Príncipe Mestiço parece estranho. Por que alguém usaria esse nome? Príncipe dá um ar de nobreza, mas por que se vangloriar de ser mestiço? Pessoas que não dão bola para essa coisa de linhagem, não teriam por que mencioná-la. E quem se importa, preferiria que os demais o tivessem na conta de puro sangue, não?

Bem, Snape alega ser ele o Príncipe e isso confere com a sua origem e o seu nome. Sabemos que, na época em que provavelmente estaria usando o livro, Snape chamou Lilian de sangue ruim, o que demonstra que ele não era indiferente em relação à questão da linhagem, ou tinha preconceito, ou tinha em alta consideração as pessoas para quem isso era importante.

Porém o fato de Snape ser o príncipe deixa mais dúvidas do que as resolve. Como Harry não reconheceu sua letra é uma delas. Note-se que Harry conhece a letra de Snape não só como seu professor, mas também a letra do aluno Snape, pois viu o seu N.O.M. de Defesa Contra as Artes das Trevas. Embora ambas as letras (a do exame e a do livro) sejam descritas como pequenas e apertadas, o que faz parecer que são realmente a mesma, o fato é que Harry não demonstra nenhum sinal de tê-la reconhecido (E por que JKR fez Harry ver o exame de Snape? Se não o tivesse visto seria mais fácil aceitar que o rapaz não tenha reconhecido a letra do príncipe, pois ela poderia ter mudado com o tempo).

Outra questão pendente é o fato de Snape ser tão incrivelmente bom em poções e Slughorn não saber disso. Só uma vez ele menciona que Snape foi bom, mesmo assim num contexto em que Snape está sendo abordado como ex-professor de Harry, quando Slughorn diz:
“– Você devia ter visto o que ele me entregou na primeira aula, a Poção do Morto-Vivo, nunca um estudante se saiu melhor na primeira tentativa, acho que nem mesmo você, Severo...”( Príncipe, p. 250)

A frase sequer foi terminada e nem é perfeitamente seguro de que ele fosse completá-la falando das qualidades de Snape como aluno de Poções ou como professor.

3. Quando Harry tenta saber alguma coisa com Remo, este lhe pergunta a idade do livro e Harry verifica que é cinqüenta anos (p. 264). Mais uma vez, a troco de que J.K.R. nos deu essa informação? E vejam bem que ela fez questão de colocá-la ali e ainda nos chamou a atenção para ela, fazendo Lupin primeiro incentivar Harry a verificar esse dado. Ora, cinqüenta anos é mais do que a idade de Snape e foi há pouco mais do que isso que Tom Riddle saiu de Hogwarts.

De onde surgiu esse livro e por que a autora queria que soubéssemos sua idade? Será que isso foi só para desviar nossa atenção de quem poderia ser realmente o príncipe? De quem foi o livro antes de ser de Snape?

Confesso que por um tempo cheguei a pensar que teria sido do próprio Voldemort, mas mudei de idéia. A autora fez muita questão de dizer que o príncipe não era Voldemort. Claro que o príncipe, no sentido de quem se autodenominava assim parece ser mesmo Snape, mas se tivesse sido Voldemort quem de fato escreveu no livro, não seria ele no fundo a pessoa por trás do livro? O verdadeiro príncipe? Então preferi abandonar esta hipótese.

E se Hermione estiver certa? E se quem escreveu aquilo tudo não foi Snape, mas sua mãe? Harry diz que tem certeza de que o livro é de um homem, mas não diz de onde vem tanta certeza, afinal não vimos nada escrito lá que não pudesse tê-lo sido feito por uma mulher. Que conseqüências para a história isso poderia ter?

Se Eileen comprou o livro há cinqüenta anos, isso quer dizer que foi contemporânea de Tom Riddle em Hogwarts e deve tê-lo conhecido pessoalmente. As anotações feitas no livro poderiam estar reproduzindo coisas que ele lhe tenha ensinado. Por que o faria? Talvez para mostrar-lhe seu poder, para tentar atraí-la para a sua turminha. Ele queria seguidores, não? E ela, como capitã do time de bexigas, devia ter algum prestígio e popularidade também.

Mas aí ela se casa com um trouxa, Tobias Snape. Torna-se uma traidora do sangue. Se Voldemort chegou a ser próximo dela em algum momento, não teria ficado furioso, não teria talvez passado a persegui-la? É possível que nem tenha tomado conhecimento do nome do marido, só que era um trouxa. Por isso não associou Snape a Eileen ou ao seu pai quando o conheceu.

É uma hipótese sem muita base, mas ela explicaria muita coisa. Explicaria a cena da infância de Snape que Harry viu numa sessão de oclumência (Fênix, p. 482), por exemplo. Acho pouco plausível que o pai de Snape pudesse deixar a esposa acuada, afinal ele era trouxa e ela bruxa. Mas numa situação em que se sentisse culpada, ela se encolheria diante dele. Se algo tivesse acontecido a ele, ou a alguém de sua família, por causa de Voldemort, seria perfeitamente razoável que ela tivesse aquela reação.

Seria também perfeitamente razoável que o jovem Severo ficasse fascinado com as Artes das Trevas, numa tentativa de melhor conhecê-las e se proteger de Voldemort. Por outro lado que tal jovem se autodenominasse Príncipe Mestiço seria razoavelmente explicável. Ou até que sua mãe o chamasse assim para infundir-lhe confiança. Afinal a letra em que está escrito que o livro pertence ao Príncipe Mestiço é a mesma do resto das anotações. Ela poderia ter escrito isso para demonstrar ao filho que ele deveria ter orgulho de ser quem é. E que não deveria rejeitar seu pai ou temer a sua condição de mestiço.

Uma tal situação explicaria ainda a confiança que Dumbledore sempre depositou no ex-professor de poções e os motivos deste, apesar do ódio que tem a Harry, ter salvado a vida do rapaz no primeiro livro da série.

É claro que isso é tremendamente especulativo e deixei bem em aberto, de modo a possibilitar muitas alternativas diferentes. Espero pelas opiniões de todos, pois acho que este tema merece discussão.

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