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:: Sala das Profecias ::

Por Lilyp — Maio de 2007

Ao ler Harry Potter e a Ordem da Fênix, um detalhe que nos intriga é a planta que Neville traz a Hogwarts para mostrar à Prof. Sprout.Mimbulus mimbletonia é o nome de “algo parecido com um pequeno cacto cinzento, exceto que[...] recoberto de pústulas, em vez de espinhos”(p.156). A planta é realmente rara e foi ganha do tio-avô Algie, que a trouxe da Assíria.
Se por si só a planta é estranha, mais estranha ainda é a ênfase que lhe é dada. Aparece na viagem a Hogwarts, quando Neville a mostra a Harry, Gina e Luna. Depois Neville tenta demonstrar seu sistema de defesa e a espeta, levando a planta a espirrar um líquido verde-escuro, pegajoso e malcheiroso de todas as suas pústulas. Mais tarde, ficamos sabendo que a senha para entrar na Sala Comunal da Grifinória é exatamente Mimbulus mimbletonia. E permanece a mesma senha pelo ano inteiro, pela primeira vez na série. por fim, voltamos a vê-la na viagem de volta, que cresceu muito durante o ano e “agora fazia estranhos arrulhos quando alguém a tocava.”(p.698)

Há ainda um trecho interessante, envolvendo a senha da Grifinória, Harry está percebendo que sente as emoções de Voldemort e sente que O Lord das Trevas está frustrado por que seus planos não estão correndo do jeito desejado. Harry se lembra do que Sirius lhe havia dito acerca de Voldemort estar atrás de uma “arma” . Então vem o seguinte trecho:
“A cólera de Voldemort faria sentido se ele não estivesse mais perto de pôr as mãos na arma, qualquer que fosse. Será que a Ordem o frustrara, o impedira de obtê-la? Onde a guardavam? Na posse de quem estaria agora?
- Mimbulus mimbletonia – disse a voz de Rony, e Harry voltou à realidade bem em tempo de passar pelo buraco do retrato”. (p. 316)

É interessante o curso dos pensamentos de Harry acerca da “arma” ser interrompido justamente pelo nome da planta. Será que ela tem alguma coisa a ver com armas?

Por que uma simples planta, feia, que ninguém sabe para que serve, mereceu tanta atenção?

Depois da história do Marco Evans (para quem não sabe, um personagem secundário que gerou muita especulação entre os fãs, por ter o mesmo sobrenome da mãe de Harry, mas que no fim foi confirmado não ser importante), estamos todos meio receosos de sair fazendo muitas teorias em torno de coisas que podem não ter nenhuma relevância. No entanto não parece ser esse o caso dessa plantinha. Por isso tentei obter alguma informação, que nos possa ajudar a compreender o seu futuro papel. Devo confessar que as idéias abaixo são fruto de diversas pesquisas de companheiros de um fórum internacional de que participo, do site MuggleNet (em inglês).

Duas coisas podemos usar como pistas: o nome da planta e a sua procedência. Quanto ao nome, obviamente não existe nada com esse nome no mundo real. A coisa que parece ter mais proximidade é um gênero de plantas - Mimulus. Não se trata de cacto, é todo um conjunto de espécies florais, sendo que algumas são usadas para fazer Florais de Bach. Neste caso, é receitada para quem tem medos conhecidos, medos cotidianos, como de falar em público, do escuro, de dor ou fobias diversas, desde que leves.

A segunda coisa à qual podemos relacionar a planta é sua origem. Causa espécie o fato de ela ter vindo da Assíria. Assíria é uma região no Iraque e há uma “tribo” com esse nome que vive principalmente naquela região. Porém, hoje em dia, quando ouvimos falar em Assíria não pensamos nesse povo e local, mas em seus gloriosos antepassados do tempo em que a Mesopotâmia era um dos impérios mais avançados do planeta, há uns quatro mil anos. Ora, o tio Algie não estaria trazendo uma planta de quatro mil anos no passado , ou será que estaria? Por que a alusão à Assíria então?

Uma breve pesquisa sobre Mitos da Mesopotâmia nos leva à saga de Gilgamesh, um dos textos mais antigos existentes, que chegou aos nossos dias por várias fontes, entre elas um conjunto de tábuas de mais de quatro mil anos (mas a história é mais antiga, remontando ao quarto milênio antes de Cristo). A rigor não é uma lenda assíria, mas suméria, anterior ainda ao período em que a Assíria foi uma grande potência. Mas que permaneceu entre as lendas da região e fez parte da cultura assíria. É a única lenda assíria que me parece suficientemente significativa e conhecida para justificar uma alusão de JK Rowling.

A saga de Gilgamesh é muito intrincada e há vários episódios, inclusive um que fala de um grande diúvio, semelhante ao descrito na Bíblia. Não seria posssível contá-la toda aqui. Mas, como estamos falando da Mimbulus mimbletonia, concentremo-nos no que pode ter relação com plantas.

Gilgamesh é meio deus, meio humano e torna-se grande amigo de Enkidu, um selvagem também enviado dos deuses. Após muitas aventuras juntos, Enkidu morre e Gilgamesh resolve que quer descobrir um jeito de não morrer. Vai então em busca de Utnapishtim, que, junto com sua esposa, é o único sobrevivente do grande dilúvio, a quem os deuses garantiram a vida eterna. Sua viagem é cheia de peripécias e perigos extremos, como quando ele tem que passar pelas Águas da Morte, que matam instantaneamente o mortal que as tocar. Finalmente Gilgamesh encontra Utnapishtim, que lhe conta do dilúvio (uma história parecida com a de Noé, a não ser pelo fato de ser politeísta). Utnapishtim dá uma chance a Gilgamesh de se tornar imortal, mas ele teria que ficar seis dias e sete noites sem dormir, o que o herói não consegue. É aí que entra a planta. A esposa de Utnapishtim lhe oferece então uma planta capaz de rejuvenescê-lo, mas Gilgamesh deve ir buscá-la no fundo do oceano. Ele o faz, mas prefere, antes de usá-la, fazer um teste em um velho de sua própria terra, Uruk. No caminho de volta uma serpente come a planta. E é por isso que as serpentes estão sempre mudando a pele, rejuvenescendo, por assim dizer. E a viagem de Gilgamesh foi em vão.

Bom, vemos então que talvez a planta possa estar ligada a três coisas: combate ao medo e rejuvenescimento, principalmente, mas também à busca pela imortalidade.

JKRowling, no dia 15 de agosto último, disse que devíamos prestar mais atenção ao fato de Voldemort ter sobrevivido ao ataque de Godric’s Hollow e nas providências que ele teria tomado para obter a imortalidade. Quando vi isso achei que não é possível adivinhar exatamente o que Voldemort fez, até porque provavelmente é alguma invenção de JK Rowling, mas uma idéia que eu já tinha colocado em outras colunas foi reforçada: a de que não adianta tentar matar Voldemort. Ele não está propriamente mortal. É preciso primeiro “desfazer” essas providências que ele tomou, é preciso fazê-lo mortal de novo.

E é nesse ponto que talvez essa história de Gilgamesh e sua busca pela imortalidade tenha alguma relação. É possível que a planta ou tenha sido usada de alguma forma por Voldemort, ou possa ser usada para combater as providências tomadas pelo Lord das Trevas, de modo a que ele possa ser definitivamente derrotado.

Bem, a coluna está se alongando e ainda há muito o que especular. Prometo voltar muito em breve a este assunto.



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