É difícil encontrar um monstro com uma história mais longa esfinge. Criatura majestosa com corpo de leão e busto humanos, a esfinge tem sido fonte de lendas há mais de cinco mil anos. No Egito antigo, onde teve origem, ela era símbolo de nobreza, fertilidade e de vida após a morte. Sua imagem era associada, com freqüência, à cheia anual do Nilo, que trazia vida ao seco deserto egípcio, e está tuas de esfinges eram colocadas na entrada da maioria dos túmulos e templos.
A estátua de esfinge egípcia mais famosa é a Grande Esfinge, com 73 metros de comprimento e 20 metros de altura, que fica em uma faixa do deserto conhecida como planalto de Gizé. Com mais de 4.500 anos, essa colossal escultura de arenito combina o poderoso corpo encrespado de um leão com a cabeça de um faraó egípcio. A maioria dos historiadores acredita que ela seja um tributo ao antigo governante egípcio Quéfren, cuja pirâmide localiza-se nas proximidades.
Saindo do Egito antigo, o mito da esfinge atravessou o mar Mediterrâneo e chegou às terras da mesopotâmia (atuais Síria e Iraque) e à Grécia antiga. Nesses países ganhou um significado mais ameaçador, representando, com freqüência, não apenas o mundo subterrâneo como também violência e destruição sem sentido. O trono de Zeus, o deus grego, no monte sagrado de Olímpia, onde os deuses habitavam, supostamente era esculpido com um anel de esfinges, representadas exterminando crianças pequenas. Outras esfinges gregas e romanas eram retratadas dilacerando suas vítimas ou babando sobre seus restos destroçados. A anatomia básica da esfinge também mudou quando seus mitos foram se deslocando rumo ao nordeste. Na Mesopotâmia, a fera mitológica rea representada com uma cabeça de carneiro ou de águia. Já na Grécia recebeu asas, além de rosto e busto de mulher.
Apesar de não ter asas, a esfinge que Harry Potter encontrou durante o Torneio Tribruxo era provavelmente grega, pelo menos no que diz respeito a seu temperamento. Além de ter um rosto de mulher, ela usava sua sabedoria para defender um grande segredo, tal qual a esfinge no antigo mito grego de Édipo. Nessa história uma esfinge ameaçadora vigia os arredores da cidade de Tebas, fazendo perguntas aparentemente sem resposta possível aos viajantes e devorando aqueles que não passavam no teste. Por fim, ela encontra o jovem viajante Édipo, que decifra sua charada: “Que animal anda sobre quatro pernas pela manhã, duas pela tarde e três à noite?” (A resposta obviamente, é o homem, que engatinha quando bebê, caminha quando adulto e se apóia em uma bengala em seus últimos anos de vida.) Tendo derrotado a esfinge, Édipo pôde prosseguir até seu destino final, onde um final ainda mais sombio que o encontro de Harry com a ira de Lord Voldemort o aguarda.
Com o tempo, a imagem grega de uma esfinge tenebrosa se tornou a mais conhecida. A própria palavra vem do grego spingein, que significa “espremer”, “estrangular” ou “atrelar”. Apesar das alegações de alguns escritores medievais, não há provas que sugiram que os antigos egípcios, mesopotâmicos ou gregos acreditassem que a esfinge fosse um animal de verdade. Suas lendas, objetos de arte e literatura sempre apresentavam como uma criatura mitológica que simbolizava poder e conhecimento proibido. Isso não impediu que escritores posteriores, como Edward Topsell, um zoólogo do século XVII, afirmassem que ela descendia de um estranho macaco etíope. Em homenagem a essas observações científicas estapafúrdias, hoje temos uma espécie de macaco chamada Papio sphinx, o babuíno.
v Cálice de Fogo, 31.
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