:: Sala das Profecias ::
Por Lilyp — Maio de 2006.
Peço desculpas pelo atraso, mas ontem à noite tive problemas para acessar a internet do meu computador.
Para completar as reflexões levantadas pela coluna sobre o trio é preciso evidentemente me debruçar sobre a outra importante relação que Harry Potter agora abraça: Gina Weasley. Ah! E não vou colocar avisos de spoilers, porque depois de cinco meses que o livro seis já saiu em português, acredito que todos os fãs ou já o tenham lido ou já saibam de seu conteúdo. Mas é claro que tratarei dele.
O que sabemos de Gina? Nos primeiros livros quase nada. Em Pedra Filosofal, ela só aparece na estação. Bem, não havia mesmo por que ser diferente, já que não estava na escola. A única manifestação da garota é o desejo de conhecer aquele menino tímido quando sabe que ele é Harry Potter e sua mãe ralha com ela. Isso nem chega a dizer nada da personalidade dela, porque muitos tipos diferentes de bruxinhas, que ouviram falar de Harry Potter desde que se entendem por gente, teriam a mesma reação. Talvez não as mais tímidas, então isso talvez signifique que não é muito tímida.
Entretanto ela parece sê-lo nos três livros seguintes. A tal ponto que, mesmo tendo relevante papel no segundo livro, quase não a vemos mencionada. Muitos fãs tomaram o embaraço que ela demonstra diante de Harry e o fato de não falar muito na presença dele como sinal de que ela de fato seria acanhada, esquecendo-se que Rony adverte Harry, logo que chegam n’A Toca, em Câmara Secreta:
“ – Você não sabe como é estranho ela estar tão tímida. Normalmente ela nunca pára de falar...”(p.40)
Ou seja, Gina não é de fato calada e tímida.
Ainda neste mesmo livro, vemos que ela não aceita desaforo e que defende os amigos, quando dá um fora em Draco Malfoy, que implica com Harry (p.58).
No terceiro livro Gina quase não é mencionada, mas há uma pequena troca de olhares e risos reprimidos com Harry, diante da atitude de Percy, se arrumando todo ao ver Penelope. Isso aponta para o fato dela se divertir com as bobagens dos outros, faceta que volta com tudo em Príncipe.
Em Cálice de Fogo ela aparece um pouquinho mais, embora ainda pouco. Ali a vemos defendendo os cabelos compridos de Gui e enfrentando a mãe para externar sua opinião. E, em outra situação importante a vemos consolar Rony, depois deste ter convidado Fleur para o baile e recebido um não como resposta. É nessa hora que Rony sugere que ela vá ao baile com Harry e ela não aceita por já ter se comprometido com Neville. Ela parece bem chateada, porém, de não poder aceitar. Em toda essa cena vemos mais algumas características dela: uma pessoa que dá força para quem foi humilhado e que não volta atrás nos compromissos assumidos, mesmo que saia prejudicada, demonstrando lealdade.
São momentos como os acima citados que nos permitem ter alguma idéia de quem é Gina, mas são tão poucos e ficam tão perdidos no meio dos livros, que é preciso relê-los algumas vezes para realmente formar essa idéia.
Em Fênix, Gina pareceu desabrochar. Na ocasião foram feitas muitas acusações de que ela estaria descaracterizada, que não se parecia em nada com a menina doce e tímida dos livros anteriores. Obviamente não se tratava disso. Ela não é a menina dos livros 2 a 4. Neles, o que víamos é como ela aparecia para Harry, pois diante do rapaz ficava sem jeito e não se mostrava inteiramente. Depois de seguir o conselho de Hermione, tentar relaxar mais diante de Harry e até conseguir namorar outros garotos, ela finalmente começa a mostrar-se como realmente é: corajosa, engraçada (quando imita a Umbridge no Cabeça de Javali, por exemplo), disposta a uma estripulia como os gêmeos, esportiva, poderosa (por exemplo é a única que tem o bom senso de fechar uma caixinha de música que está afetando a todos na p. 99, para não falar no famigerado Bat-Bogey Hex, muito mal traduzido por Azaração para Rebater Bicho-papão, mas que na verdade seria Azaração das Melecas Morcego) e firme na defesa de seus interesses (não se conforma quando a mãe não a deixa ouvir a conversa em que explicarão coisas da Ordem da Fênix para Harry, no capítulo 5, e sai pisando forte). É uma pessoa que não deixa os amigos se menosprezarem (corta Neville no trem, quando este diz que não é ninguém) nem se afundarem em culpa (quando chama a atenção de Harry por ficar se torturando quanto à idéia de ter sido possuído por Voldemort, sem lembrar de conversar com ela sobre o assunto).
Quando Harry se interessa romanticamente por ela, em Príncipe, um monte de gente passa a acusá-la de virar aquele tipo de personagem que tem todas as qualidades e nenhum defeito e que fica com o rapaz mais cobiçado. Bem, Gina conquista Harry, ela é popular, mas não é alguém que tenha todas as qualidades. Ela não é escolhida para ser monitora, não é a mais inteligente da classe e, mesmo apaixonado por ela nunca é dito que ela é bonita. A idéia é sugerida pela popularidade dela e pelos alunos da Sonserina comentarem se estão ou não a fim dela, mas de fato nem sempre as garotas são populares por serem bonitas e o fato é que isso nunca é completamente explicitado. As descrições de Harry são sempre elogiosas, mas não chegam a ser muito explícitas.
As características que aparecem dela em Príncipe são um reforço do que já tínhamos visto. Não deixa os amigos serem humilhados, (não permite que chamem Luna de Di-Lua). Não aceita desaforos, avançando em Zacarias Smith e retorquindo asperamente quando Rony ameaça ofendê-la diante de Harry, após os dois terem-na pego beijando Dino. Gosta de caçoar e imitar os outros, como faz com Fleuma, quer dizer Fleur. É boa jogadora de quadribol, como vários de seus irmãos.
Realmente se jogar quadribol bem e ser popular for excesso de qualidades, então que dizer dos gêmeos, de Cho (que além do mais, é bonita) e do próprio Harry? O fato é que Gina não mudou substancialmente entre os dois últimos livros e as mudanças aparentes entre estes e os demais, deve-se ao fato, lembrado mais de uma vez, de que ela conseguiu finalmente ser ela mesma diante de Harry.
Tendo visto a personalidade de Gina, podemos tratar de sua relação com Harry. Gostaria de comentar alguns dos principais pontos levantados quanto a isto.
1. Diz-se que a relação foi muito apressada. Discordo inteiramente. Não entendo essa coisa das pessoas acharem que uma relação amorosa entre adolescentes teria que ter tido pistas mais claras nos livros anteriores, o que significaria que levaria anos para desabrochar. Relações amorosas não precisam de anos nem entre adultos, que dirá adolescentes! Aliás, se fosse assim não haveria livros de romances, só séries de livros. Por outro lado, qualquer relação amorosa de Harry não teria mais que os dois últimos livros para desabrochar, já que o negócio dele com Cho já tinha claramente terminado ao fim do quinto livro e ele nunca manifestara nenhum interesse amoroso por nenhuma outra garota. Talvez os fãs de Harry/Hermione discordem aqui, mas não vou retomar esse tema, já amplamente discutido anteriormente por Angua, melhor do que eu o poderia fazer. Qualquer dúvida, vejam a coluna que fiz resenhando o seu artigo. Só digo que a relação de Harry e Hermione sempre foi totalmente platônica de parte a parte. Os dois, que são bastante ciumentos, nunca manifestaram o menor ciúme um do outro, por exemplo, e quando Hermione dá um beijo na face de Harry, ao fim de Cálice, ele nem dá bola. Esses são só alguns indícios de que não há atração entre os dois.
Já no tocante a Gina, o que houve nos livros anteriores foram pistas literárias, como certas situações que não deveriam merecer menção e que, se aparecem, é porque devem estar apontando para uma futura relação, como o relativo destaque dela no primeiro (frente à sua total desimportância para a história), a paixonite por Harry, ou a cena no finalzinho de Fênix, em que Rony diz que ela devia achar um namorado melhor da próxima vez, parecendo insinuar que devia ser Harry. Cenas que, se apontam para um desdobramento em termos dos livros, absolutamente não querem dizer que Harry estava a fim dela. Não estava. Mas no verão ele passa um verão se divertindo ao lado dela e desde o momento em que chega n’A Toca, vemos que ela o faz rir e que eles brincam um com o outro. No Expresso de Hogwarts, Harry sente a falta dela, depois sente o cheiro dela diante da Amortentia, que faz as pessoas sentirem os cheiros que as atraem. Mais tarde, na ida a Hogsmeade fica o tempo todo pensando por onde ela anda. Se todas essas dicas não fizeram as pessoas perceberem que Harry estava gostando dela sem admitir para si mesmo, deve ter sido por falta de atenção. Quando ele finalmente a vê com Dino e morre de ciúmes, consegue se dar conta do que se passa. Ele não percebe, mas o leitor é levado a entender que Harry vinha reprimindo os seus sentimentos por Gina, por medo de que um namoro com ela pudesse por em risco sua amizade com Rony, que é muito importante para ele.
Reparem também que a coisa não foi corrida. Entre o momento em que Harry foi para A Toca e o momento em que a viu com Dino passaram-se no mínimo três meses e só começam a namorar sete meses mais tarde. Dificilmente se pode dizer que isso é um namoro corrido, ainda mais em se tratando de adolescentes.
2. Vi muitas críticas ao monstro interno de Harry. Muita gente associou monstro com coisa ruim, achando que isso quer dizer que o que Harry sente é ruim. Discordo inteiramente. O monstro do peito de Harry é engraçado e nos faz ver como os sentimentos do rapaz em relação a meninas se modificaram. Enquanto Cho o fazia sentir o estômago dar cambalhotas, Gina fez um monstro aparecer. No primeiro caso, a metáfora tem uma conotação de certa insegurança, no segundo parece um sentimento mais forte, que o domina. O monstro são os sentimentos de ciúme e atração sexual que ele não consegue evitar sentir. As sensações, agora muito mais fortes, o tomam.
O uso da metáfora do monstro no peito não me parece uma coisa ruim, no entanto. Quando se sente algo muito forte por alguém, é comum que tenhamos fortes sentimentos que preferiríamos não ter e temos certa dificuldade de controlar, como ciúmes exagerados ou desejo intenso. Achei a metáfora significativa, engraçada e permite interpretações mais maliciosas para os adultos sem se tornar imprópria para as crianças. Monstros nem sempre são coisas ruins nas histórias infantis e são usados exatamente para denotar o temor que temos desses sentimentos intensos que podem parecer incontroláveis a uma criança. A Bela e a Fera é apenas o exemplo mais famoso. A interpretação da Fera como representando os desejos reprimidos da moça não é minha, mas de psicanalistas famosos, como Bruno Bettelheim em A Psicanálise dos Contos de Fadas.
3. Acho engraçado quem ainda diz que os dois não são compatíveis. Ora a autora construiu Gina para ser a garota ideal para Harry. Ela tem diversas características importantes que as outras garotas com quem Harry tem mais contato não têm. Gina o faz rir, o que é muito importante para ele, como se nota quando briga com Rony em Cálice e sente falta das risadas que os dois trocavam e que não ocorrem com Hermione. Ela é corajosa e não tenta impedi-lo de seguir seu caminho e enfrentar os perigos que certamente surgirão. Ela o enfrenta, como quando o fez lembrar que ela já tinha sido possuída. Enquanto Hermione às vezes se encolhia com a berração dele em Fênix, Gina não se deixa abalar e o coloca no devido lugar. Luna também não se abala, mas também não o faz parar de berrar.
4. O último ponto é qual a importância da relação dos dois? Será que a recomposição do trio seria mais importante?
Ora Gina fez Harry “mais contente do que lembrava haver sido em muito tempo” e era sua “maior fonte de consolo”. O que significa que ela o faz mais feliz do que seus amigos e é melhor para consolá-lo. Isso aponta para uma relação realmente forte entre os dois, mais do que costumam ser relações entre pessoas tão jovens. Não posso concordar que a amizade de Rony e Hermione, embora tremendamente importante, possa sobrepujar tudo o que Gina lhe traz. São dois tipos de relações distintos, ambos necessários no desenvolvimento de um ser humano. Harry não se afastou de Gina porque era melhor estar só com seus amigos, mas porque teme pelo que possa acontecer a ela. No entanto, tenho certeza de que essa separação veio apenas para que ambos aprendam novas lições sobre o amor.
Também duvido que o poder que vai eliminar Voldemort seja o amor romântico, mas o seu desbrochar tornará Harry mais forte, mais desejoso de viver e derrotar Voldemort.
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Discordo em muitos pontos, mais o principal deles é foi essa parte de "isso quer dizer que ela o faz mais feliz que seus amigos", totalmente errado isso. Primeiro é claro que o harry não se sentia tão feliz assim, pois se encontrava cheio de problemas tendo que enfrentar o voldmort, tendo que enfrentar perdas como a do seu padrinho, e ele não tinha um relacionamento amoroso desde Cho, é claro que a Gina ia lhe proporcionar alegria, ele estava namorando com quem ele gosta,ele não tinha gostado de ninguém desde a Cho, mais isso não quer dizer que ela o fez mais feliz do que seus amigos, isso não tem cabimento. E realmente não vejo a Gina ter nem metade da importancia do Rony e Hermione na vida do harry...Ele gosta da Gina? Claro que sim, mais não se compara com o Rony e a Mione, tanto é que ele estava disposto a não ter nada com a Gina só para não por em risco sua amizade com o Rony, quando a guerra acabou quais foram as pessoas que ele mais desejou ver??? Rony e a mione, isso sem falar de tudo que eles passaram juntos, de TODAS as coisas que os 3 tiveram que enfrentar por tantos anos..e isso tenho certeza que não se compara em nada com a historia do Harry com a Gina.
Harry Potter é um adolescente. Sua vida se abre num leque de descobertas e enfrentamentos e o amor não seria uma novidade em seu caminho. Ele flertou como todo garoto faz, até mesmo Hermione poderia ser uma escolha amorosa. É visto que ele não é o mais brilhante dos alunos da escola de bruxos, mas é compensado por seu senso de justiça e coragem. Como se desenvolveram juntos, ele, Rony e Hermione criaram um vínculo muito forte, são quase irmãos,e claro, que a amizade entre eles é mais forte que tudo que poderiam conhecer. Fatalmente a menina do grupo ficaria envolvida com um dos dois, como todo trio que se preze( Zillion, Naruto, etc)e pelo fato de Mione ser confidente e conhecer Harry tão bem, sobrou Rony, meio atrapalhado, meio tímido e como Harry, um bruxo não muito bom. Hermione não se sente constrangida perto de Harry, mas ela perde o jeito com Rony. A escritora não errou em criar esse clima entre os dois e posso afirmar que o sentimento crescente entre os dois é bem natural. Começando com olhares e toques sutis, preocupações bobas e discussões aparentemente por nada, assim como Gina e Harry, gostei bastante do desenrolar dos casais da história e acho que, tanto Mione quanto Gina são ótimas parceiras para Harry, mas curiosamente, um escritor percebe quando seus personagens fazem suas próprias escolhas e é isso que muda tudo o que a gente pensa deles.
Daniela Lopes